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20 de julho – dia do amigo!

amizade

Hoje é dia do amigo. Logo cedo recebi um scrap no Orkut em comemoração a este dia. Logo que recebi o scrap, o respondi com as mesmas felicitações e comecei a parabenizar algumas pessoas que estavam online no meu MSN. Aí, agora a pouco, estava pensando: por que recebi aquele scrap? Por que respondi? Por que parabenizei as pessoas no MSN? Por que criaram esta data?

Quando tentei responder a estas perguntas comecei a pensar em algumas variáveis que podem estar relacionadas àquilo que chamamos de amizade. Gostaria de compartilhar meu raciocínio com os leitores. Entendo que primeiramente há variáveis que favorecem a amizade, há ainda outras que a bloqueia e que há diferenças sutis entre um amigo e uma outra pessoa que a gente acha legal.

Primeiramente, o que favoreceria uma amizade? Vamos lá. O dicionário Michaelis online define amizade como “sf (lat amicitate) 1 Sentimento de amigo; afeto que liga as pessoas. 2 Reciprocidade de afeto. 3 Benevolência. 4 Amor. Antôn: inimizade, ódio, oposição. A. colorida, gír: relação íntima e amorosa, sem compromisso social. Cf amizade-colorida”. Esta definição imediatamente lança luz sobre uma questão importante sobre a amizade: ela envolve sentimentos característicos do reforçamento positivo.

O estudo dos sentimentos na análise do comportamento se dá pela observação de quais tipos de estímulos eliciam quais respostas emocionais. É o campo do estudo do comportamento respondente. Sabe-se que aqueles sentimentos que chamamos de alegria, felicidade e prazer (ou elação) são evocados pela apresentação de estímulos reforçadores após a emissão de alguma resposta. Diz-se, de forma mais tradicional, que tais sentimentos são produtos de uma contingência de reforço. Observe o esquema:

Antecedente

∙

Resposta

→

Conseqüência

Alegria, felicidade, prazer.

Alguns sentimentos são produtos de contingencias mais complexas, como o afeto e o amor. Estes estão ligados a uma predisposição constante em mediar os reforçadores para outra pessoa, isto é, diz-se que uma pessoa ama outra quando esta media os reforçadores para aquela em uma alta freqüência. À despeito da freqüência, a mediação de reforçadores por outra pessoa é o que define todo comportamento social.

A predisposição em mediar os reforçadores pode ter sua origem tanto na própria relação com a pessoa amada quanto pode derivar de outros processos de aprendizagem, como a experiência com outras pessoas que compartilham alguma semelhança ou o seguimento de regras do tipo “ame ao teu próximo como a ti mesmo”. Esta história inclui múltiplas ocasiões em que a pessoa que hoje é vista como uma amiga mediou reforçadores para aquele que a vê desta forma. Isto quer dizer que, se eu tenho você como um amigo, no nosso passado juntos você provavelmente elogiou algumas características minhas, me fez convites para programas agradáveis, me acompanhou em algumas tarefas, fez algum favor imprescindível e trocou gentilezas. Em termos comportamentais, podemos descrever uma contingência de reforçamento mediado pelo outro da seguinte forma:

FALANTE

(audiência)

Pão, por favor

Pão

Obrigado

De nada

SD

∙

RV

→

SR + SD

∙

RV

→

SRV

↑

↓

↑

↓

↑

SDV

∙

R

→

SRV + SD

∙

RV

→ …

Pão, por favor

Passar o pão

Obrigado

De nada

OUVINTE

Legenda
SD: Estímulo discriminativo SDV: Est. discriminativo verbal R: Resposta
RV: Resposta verbal SR: Estímulo reforçador SRV: Estímulo reforçador verbal

A relação de contingência descrita acima é um episódio verbal em que uma pessoa, o falante, solicita um pão a outra pessoa, o ouvinte. Neste episódio, somente a presença de uma pessoa (audiência), sinaliza a oportunidade (SD) de realizar o pedido de pão (RV). O pedido é para o ouvinte uma oportunidade (SDV) para passar o pão (R). O pão é a conseqüência (SR) para a resposta do falante de pedir pão e é também a oportunidade (SD) de agradecer ao ouvinte. O agradecimento do falante é a conseqüência (SRV) produzida pelo ouvinte ao passar o pão e também é a oportunidade para este dizer (RV) “de nada”. Por fim, “de nada” é a conseqüência (SRV) produzida pelo ouvinte diante do agradecimento do falante.

O mais importante aqui é ressaltar que a pessoa amiga se tornou um estímulo capaz de (1) evocar sentimentos de amor e afeto; e (2) tornar mais provável a mediação de um reforçador. Penso que estas duas propriedades facilitam o surgimento de uma amizade.

Há ainda outra característica importante no amigo. O amigo não exerce coerção. A coerção é caracterizada por contingências de reforço negativo, punição e pela manipulação dos reforçadores em favor do manipulador. Os sentimentos derivados destas contingências são respectivamente a ansiedade, o medo e a insegurança. Estes sentimentos são incompatíveis com os sentimentos de alegria, felicidade e prazer e o agente coercitivo não consegue se estabelecer como um mediador de reforçadores. Desta forma, a coerção seria uma variável que bloquearia a amizade.

Porém há ainda uma variável mais sutil, que eu chamaria de diferença qualitativa, que define uma amizade. Afinal, não chamamos o caixa do supermercado (extremamente reforçador e minimamente coercitivo) de amigo. Reservamos este nome para aquelas pessoas que reforçam comportamentos que mais provavelmente seriam punidos. Não só temos no amigo aquele que medeia reforçadores e evita a coerção, mas o amigo é aquele que vai além. Ele ouve atentamente uma confissão inconfessável, se arrisca, acalma o seu piti, critica o seu inimigo, enfim, é seu amigo. O amigo é íntimo.

Bem, que neste dia do amigo os leitores do Psicologia e Ciência possam ser encorajados a serem mais reforçadores, menos coercitivos e a aceitarem aqueles que estão por perto por quem eles são. Quem sabe não é hora de fazer um bom amigo?

As idéias originais e os conceitos sobre os quais este post se debruça podem ser encontrados em tratados clássicos da análise do comportamento e solicitado via contato com o autor pelo e-mail rodrigonunesxavier@gmail.com.

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One Response

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  1. Fábio Néri said

    Esse é meu amigo! =D

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