“Os terapeutas cognitivo comportamentais dizem que a TCC é uma evolução com relação à Análise do Comportamento por ter incorporado componentes cognitivos e afetivos em suas análises, enquanto a Análise do Comportamento só trabalha com o comportamento. Isso realmente representa um progresso da abordagem?”
Esta foi a pergunta enviada pelo Thiago Silveira, do Paraná, para o e-mail neto@comportese.com. Para respondê-la, divido-a em duas:
1)     Será verdade que os Terapeutas Comportamentais excluem componentes cognitivos e afetivos de suas análises?
2)     A terapia cognitivo-comportamental representa um avanço com relação à Análise do Comportamento?
Antes de responder a qualquer uma das perguntas, cabe uma pequena discussão sobre o que é comportamento, o que é sentimento e o que é pensamento para a Análise do Comportamento e para a Teoria Cognitivo Comportamental.
Maria Amália Andery e Tereza Maria Sério definem Comportamento como “uma interação entre eventos ambientais (estÃmulos) e atividades de um organismo (respostas)”, em uma perspectiva Behaviorista Radical.
Quando se aplica a definição apresentada e temos em mente que pensar e o sentir são alguns dos tipos de interação que o organismo estabelece com o ambiente¹, é correto defini-los como Comportamentos, assim como o andar, o falar e o escrever. A diferença, é que quando falamos de Sentimento e Pensamento, estamos falando de formas de interação que não são acessÃveis diretamente a outras pessoas, senão a quem pensa e sente.
Agora, vamos voltar à primeira pergunta que fiz:
1)     Será verdade que os Terapeutas Comportamentais excluem componentes cognitivos e comportamentais de suas análises?
Se partirmos desta definição de comportamento que acabo de apresentar, a afirmação é falsa. É falsa porque, como já foi dito, o pensar e o sentir são algumas das formas de interação que o organismo estabelece com o ambiente; e, como tais, são comportamentos, objetos de estudo próprios do Analista Comportamental.
Já a definição de Comportamento da Teoria Cognitivo- Comportamental é bastante diferente desta. Eles chamam de comportamento apenas aquilo que pode ser observado publicamente. O andar, o falar e o escrever, continuam sendo comportamentos; afinal, não ocorrem de maneira privada. Mas o pensar e o sentir, cujo acesso é restrito a quem pensa e sente (até que esta pessoa relate), já não podem ser chamados de comportamento dentro desta segunda definição.
Como partem de uma definição de comportamento que não engloba atividades do organismo que sejam privativas ao indivÃduo (o pensamento e o sentimento), e os terapeutas comportamentais partem de uma definição que engloba estas atividades, é natural que exista este mal entendido.
Quando o Psicólogo Comportamental fala que estuda o Comportamento, ele está pensando em toda e qualquer interação do organismo com o ambiente (inclusive pensamento e sentimento). Quando o Psicólogo Cognitivista ouve que o Analista Comportamental estuda o Comportamento, ele pensa apenas naquilo que é observável (categoria em que não se incluem o pensamento e o sentimento).  Além disso, existem também alguns fatos históricos que contribuem para a confusão, os quais poderão ser discutidos em outro texto.
Respondida a primeira pergunta, vamos partir para a segunda:
1)     A Terapia Cognitivo-Comportamental representa um avanço com relação à Análise do Comportamento?
Não serei eu quem darei esta resposta. Recorrendo a uma fala de Bruno Strapasson, em entrevista ao Comporte-se, quando eu definir o que é melhor ou pior eu estarei partindo de um referencial especÃfico e, como tal, minha definição será enviesada por este referencial. Portanto, caberá ao leitor definir quais são os critérios de melhor ou pior adotados e dizer se houve ou não um avanço. Mas se posso dar minha opinião pessoal (que acredite, é fundamentada em leituras e pesquisas sobre as duas abordagens), não houve avanço nenhum, apenas uma variação que tem dado certo. Muitos cognivistas irão querer me matar por isto, mas vá lá.
5 Responses
Stay in touch with the conversation, subscribe to the RSS feed for comments on this post.
Neste embate, uma contribuição do karl Popper:
“Whenever a theory appears to you as the only possible one, take this as a sign that you have neither understood the theory nor the problem which it was intended to solveâ€
Pode ser muito radicalismo de minha parte (é como você disse, estou partindo do meu referencial especÃfico), mas minha opinião sobre a TCC é que eles simplesmente usam de termos “cognitivos” para explicar coisas que, por falta de conhecimento ou inexperiência, não conseguem explicar sob a ótica de Skinner. Um bom Analista do Comportamento não precisa disso. A TCC funciona? Sim, claro que funciona. É mudança comportamental de qualquer maneira, assim como o é a terapia psicanalÃtica e as demais. O ponto em questão é a explicação baseada em construtos hipotéticos que parece não chegar a lugar algum.
Enfim, ótimo texto. Vou dar uma olhada nas demais publicações. =)
Eu no meu ponto de vista são duas areas distintas, a qual cada uma tem sua importancia, escolher uma para seguir é um questão de escolha. Mas as duas são muito boas e conseguem resultados maravilhosos!!!! gostei do texto, parabéns!!! n criticar é a melhor opçao para um profissional de respeito!!!
Excelente lembrança Gurgel! Popper cai muito bem nessa discussão.
Neto, sempre equilibrado e bem embasado. És referência para a classe nas tuas posições.