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Behaviorismo Radical e Realismo

Olhando alguns livros eu encontrei algumas críticas ao Behaviorismo Radical que me chamaram a atenção. Pra variar, essa crítica se parece muito com as tradicionais confusões que acontecem entre o Behaviorismo Radical de Skinner e o Behaviorismo Metodológico.Queria comentar em especial uma frase que encontrei em meu livro de Personalidade no capítulo onde ele fala sobre o Behaviorismo Radical, eis aqui:

Não há dúvida que o Behaviorismo ‘funciona’. A tortura também. Coloque-me nas mãos um Behaviorista firme, eficiente e realista, algumas drogas e aparelhos elétricos simples, que em seis meses farei com que ele recite em público o Credo de Anastácia“.

A brincadeira é de autoria do poeta W. H. Auden e está no livro Teorias da Personalidade – Da teoria clássica a pesquisa moderna, 2ª edição, página 196.

A “proposta” do poeta aparentemente explicita que:

1 – O Behaviorismo Radical é realista.
2 – O Behaviorista ignora os sentimentos.

O realismo representa a idéia de que os carros, os prédios, as casas, as pessoas que vejo estão lá realmente – que existe um mundo fora do sujeito e é este mundo que dá origem as nossas experiências. Se dou as costas para um carro, eu acredito que ao me virar ele estará lá novamente. É como se eu dissesse que o carro e tudo mais o que vejo está fora de mim, enquanto minha experiência, minha percepção a respeito disso, meus pensamentos, são coisas que estão dentro de mim.


Essa corrente filosófica pode ser contrastada com o pragmatismo, que teve como principais precursores Charles Pierce e William James. Para o pragmatista, não importa se o carro, o prédio ou qualquer outra coisa realmente exista, mas sim que este objeto exerça algum poder explicativo ou função no ambiente. Para James, a nossa concepção a respeito de algum objeto consiste em seus efeitos práticos apenas, nada mais.


Embora não haja consenso entre todos os autores, Baum (2006) afirma que os Behavioristas Radicais preferem o pragmatismo ao realismo em função do escopo dualista que o realismo carrega. Se você afirma que “o mundo exterior é real”, estará levantando a questão “se estou separado deste mundo exterior real, onde eu estou?”. A psicologia popular responderia que você tem dentro de sí um mundo interior privado, subjetivo, em que você experimenta sensações, pensamentos e sentimentos. Somente o corpo externo pertence a este mundo exterior. Isso levaria a outra questão, “como é que esse mundo exterior influencia o comportamento?”. É impossível se chegar a alguma resposta já que não há como investigar a maneira pela qual uma variável não natural influencia um evento natural.


Behaviorismo Metodológico baseava-se no realismo. Eles diziam que a ciência lidava apenas com o objetivo, observável por mais de uma pessoa. Consideravam que a ciência era constituída de métodos para o estudo do mundo “fora da pessoa”. Ele supõe que o mundo objetivo está lá fora, acessivel a todos enquanto o subjetivo é a caixa preta, impossível de ser estudada pela ciência.

Se admitíssemos esse dualismo, uma ciência objetiva que lidasse somente com o comportamento exterior pareceria incompleta; por isso os behavioristas costumam ser acusados de ignorar o mundo interior dos pensamentos e dos sentimentos. O erro está em dizer que os Behavioristas Radicais ignoram estes processos internos. Nesse ponto sim existe consenso. Os Behavioristas Radicais estudam os processos internos como pensamento, sentimento, etc., apenas não atribuem a eles a causação dos comportamentos.

Para o Behaviorista Radical os sentimentos e os pensamentos são comportamentos como quaisquer outros. É possível estudá-los e descobrir sua função na contingência, assim como qualquer outro comportamento.

A melhor maneira de combater o preconceito com relação ao Behaviorismo Radical, inicialmente é discutir a respeito destas críticas. Não um debate, mas um esclarecimento sobre como é que o Behaviorismo encara diversos assuntos onde os críticos apontam certas deficiências. É necessário tomar cuidado com reducionismo. Ele também é outra variável que pode levar ao preconceito.

BIBILHOGRAFIA CONSULTADA E LEITURA INDICADA:

BAUM, W. M. Compreender o behaviorismo: ciência, comportamento e cultura. Porto Alegre: Artes Médicas, 2006.

Esequias Caetano de Almeida Neto.

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4 Responses

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  1. THAIS MAIA said

    Penso que a opção pelo Pragmatismo é uma esquiva de se procurar uma forma de “como investigar a maneira pela qual uma variável não natural influencia um evento natural”. Parece ser o mais econômico, mas será o mais correto/completo jeito de se estudar essas interações???
    Obrigada!
    Thais

  2. Marcos Rodrigues said

    Tudo o que nos é conhecido hoje que possui um rotulo de ciencia faz parte de um mundo natural.
    Porque haveria de existir um mundo não natural ?
    A Analise do Comportamento como ciencia, e o Behaviorismo Radical como filosofia dessa ciencia, nega o mundo não natural, mas não exclui a subjetividade. Os sentidos, sentimentos, pensamentos, e varios outros termos mentalistas são comportamentos fisicos selecionados pelos 3 tipos de seleção, Filogenetica, Ontogenetica e Cultural.
    A mente é uma inferencia do comportamento do pensar, ou seja eventos que estão a um nivel tão baixo que somente o sujeito percebe, verbalmente ou não.
    O que sentimos é um efeito colateral da função de nosso comportamento,e não um conceito causal, não podemos dizer que o desejo causou algo porque o desejo, não passa de uma reação fisiologica que esta presente na hora da ação e não sua causadora (variavel independente).
    O Behaviorismo não se esquiva da questão mente-corpo, ele apenas diz que a dicotomia é inexistente. É apenas um erro linguistico-logico.

    Muito bom artigo !!!

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  3. maelison said

    Thais, você diz : “Penso que a opção pelo Pragmatismo é uma esquiva de se procurar uma forma de ‘como investigar a maneira pela qual uma variável não natural influencia um evento natural’.”

    Eu concordo com o Marcos acima, o behaviorismo radical não foge da questão, apenas defende que esse dualismo é inexistente. O mundo não-natural ou variáveis-não naturais ou mente, esses sim são esquiva, pois, segundo Skinner, quando recorremos a esses termos para explicar o comportamento, estamos deixando de olhar para as variáveis ambientais que o estão controlando. Enfim, como não sabemos por que determinado comportamento ocorre, somos tentados a atribuí-lo a uma entidade interna, já que o controle ambiental não é facilmente verificável e muitas vezes nossos próprios comportamentos são antecedidos ou acompanhados de estados internos, o que nos leva a atribuir a eles causas do comportamento, quando na verdade ambos ( comportamento público e estados internos ) estão sob controle de variáveis ambientais ( ver definição ótima que os escritores do Blog dão para ambiente nessas discussões).

    Parabéns pelos tópicos, muito bons!

  4. lucas said

    legallllllllllllllllllllllllll copiei as melhores partesss

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