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Conceitos Básicos de AC – Parte 1 – Behaviorismo.

O Behaviorismo teve sua origem em 1913, com a publicação do artigo “A psicologia como um behaviorista a vê”, de autoria de Watson; artigo este em que Watson criticava, dentre outras coisas, o uso da introspecção como método investigativo da Psicologia. De acordo com Watson, este método não era confiável porque estava muito sujeito aos caprichos do observador. Dois observadores diferentes podiam chegar a duas conclusões diferentes, mesmo observando a mesma coisa.

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Ao publicar este artigo, Watson propõe uma mudança radical na Psicologia, tanto em seu objeto de estudo quanto em seu método de estudá-lo. O objeto deixaria de ser a consciência ou a mente, e passaria a ser o comportamento por si mesmo. A introspecção deixaria de ser usada e daria seu lugar a experimentação e observação direta. Deste modo, a psicologia se tornaria uma ciência natural capaz de explicar toda a atividade humana de maneira científica. Quem quiser conhecer melhor o pensamento de Watson, clique aqui.

Posteriormente, na década de 30, nascia o Behaviorismo Radical, foco de nossa discussão. O Behaviorismo Radical traz questões como “é possível uma ciência do comportamento?”, “ela poderia tratar todos os aspectos da natureza humana?”, “como deveria ser esta ciência?”. Skinner, assim como Watson, acreditava que é possível sim uma ciência do comportamento que trate de todos os aspectos da natureza humana; no entanto, ao contrário de Watson que preocupava-se mais com a criação dos métodos que esta ciência deveria empregar para investigar estes aspectos, Skinner preocupou-se mais com a criação de termos e conceitos capazes de explicá-los de maneira clara e precisa.

B.F. Skinner

O Behaviorismo de Skinner aproximou-se muito do pragmatismo de James e Peirce, corrente de pensamento que preconizava a idéia de que algo é mais ou menos verdadeiro à medida em que nos permite explicar de maneira mais eficaz o que é observado. Ao aproximar-se do pragmatismo, Skinner afasta-se do positivismo lógico, escola filosófica que teve sua origem no Círculo de Viena e preconizava que a verdade deve ser atingida por consenso entre observadores. Isto abria um leque bem maior de possibilidades para o Behaviorismo; inclusive de criar condições de estudar eventos privados, coisa que o Behaviorismo de Watson não admitia sob a justificativa de naquele momento não existir ainda tecnologia adequada.

Na verdade, o Behaviorismo de Skinner não se encaixa completamente em nenhuma escola filosófica de seu tempo, mas possui aproximações com várias delas. Além do Pragmatismo, Skinner aproxima-se também do Darwinismo e seu modelo selecionista. Para Darwin, as espécies são selecionadas naturalmente à medida em que adquirem características que lhes permitam interagir de maneira mais eficaz com o ambiente que está em constante mudança. Com o conceito de Comportamento Operante, fortemente influenciado pelos estudos de Thorndike  e a lei do efeito, Skinner diz que um processo semelhante acontece na aprendizagem de nossos comportamentos; onde, sabendo que comportamento é interação constante entre o organismo e o ambiente, seriam selecionados aqueles comportamentos que produzissem alterações no ambiente – que posteriormente foram nomeadas como “reforço”, por Skinner -, de modo a aumentar sua freqüência; enquanto aqueles que não produzissem este mesmo tipo de conseqüências reforçadoras, diminuiriam de freqüência, entrando em extinção.

Influenciado também pelo conceito de Comportamento Respondente de Pavlov e Watson, ao criar o conceito de Comportamento Operante, Skinner exclui de vez a necessidade de qualquer tipo de explicação para o comportamento que incorporasse entidades metafísicas, ou que estivesse além dos elementos naturais. Skinner, deste modo, constituia-se um monista materialista. Ele defende que o comportamento deve ser explicado através da observação e descrição das relações entre eventos naturais, como o organismo e o ambiente. Ambiente para Skinner é um conceito que vai além do tradicional. Ele define ambiente como tudo aquilo o que é externo a uma ação. Deste modo, o próprio organismo pode ser parte do ambiente.

O conceito de Comportamento também vai além do tradicional. Ele define comportamento como a interação do organismo com o ambiente, e chama de “resposta” a ação ou ato emitido pelo organismo, seja este ato público, isto é, observável por mais de uma pessoa, ou privado, só acessível a quem o emite. Exemplos de respostas privadas são o pensamento, a emoção e o sentimento. Outras pessoas podem no máximo inferir o que alguém pensa ou sente a partir de algum ato (resposta) – acompanhamento – público, mas jamais pode saber exatamente. Estes eventos privados podem ser estudados através de relatos feitos por quem os emite. Estes relatos, do mesmo modo que outros comportamentos, também são aprendidos de acordo com a comunidade em que a pessoa cresce.

Skinner não atribui somente ao ambiente a construção de nosso repertório comportamental. Conforme será explicado a seguir, o ser humano já nasce com um repertório básico, mínimo para a sua sobrevivência, chamado de “reflexo inato”. Este repertório foi selecionado num primeiro nível de seleção, chamado filogenético, e é constituído de respostas como fechar o olho diante da aproximação súbita de um objeto, o sugar do bebê ao entrar em contato com o seio materno, o coração disparar diante de um susto, etc. Estes comportamentos não são aprendidos durante a vida da pessoa, ela já nasce com eles. À medida que o organismo vai vivendo, as relações que ele estabelece com o ambiente vão modificando o seu comportamento, o que pode acontecer através de pareamento, como no caso do condicionamento respondente, ou condicionamento operante, conforme será explicado adiante. A este nível de aprendizagem, Skinner chamou de Ontogenético. Como o organismo vive inserido em uma comunidade de falantes, que selecionam determinados comportamentos, dizemos que ele vive inserido em uma cultura, terceiro nível de aprendizagem, chamado por Skinner de Ontogenético-Cultural. Nas próximas postagens desta série de conceitos básicos de Análise do Comportamento, estes níveis de seleção serão melhor explicados. Acompanhe, vai ser legal.

Esequias Caetano de Almeida Neto.

Posted in Beh. Radical, Ciência, Conceitos, Educativos, Epistemologia. Tagged with , , , .

3 Responses

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  1. Rosane Oliveira said

    Olá, sou estudante de Psicologia e devo dizer que esses textos são bastante esclarecedores!

  2. Dolário C.Cesar Filho said

    Muita coisa esclarece, mas quanto ao sentimento e as emoções, fica para mim algumas dúvidas que gostaria de entender.

  3. elis said

    gostaria de um texto mais direto, referente ao assunto ,menos complexo, pois o estudo de comportamente do texto não nos defere do que realmente é o behaviorismo de outros comportamentos humanos simplificando e esclarecendo quem o lê.eli

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