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Conceitos básicos de AC – parte 9 – Comportamento Verbal – Definição

brasil-330x220-lac-young-people-talkingO modo como a ‘linguagem’ é definida e estudada na abordagem analítico-comportamental reverte inteiramente as idéias com as quais estamos acostumados e apresenta uma forma prática e científica de investigar a origem, o que mantém e como classificar funcionalmente comportamentos verbais. Não cabe nos objetivos deste texto discutir as críticas aos sistemas tradicionais de entendimento da linguagem, portanto, é válido partir direto para o comportamento verbal de acordo com a análise do comportamento.

Dada a extensão do tema, vou dividi-lo em partes. Nesta primeira, vou definir comportamento verbal e comentar algumas de suas implicações. Depois, vou comentar sobre os diferentes tipos de operantes verbais e como eles podem ajudar na prática profissional.

Em consonância com o Behaviorismo Radical, Skinner definiu comportamento verbal como um (1) comportamento operante (2) reforçado pela mediação de um ouvinte (3) especialmente treinado para fazê-lo por uma comunidade verbal.

1 – Comportamento operante

Definir comportamento verbal como operante significa dizer que a ‘linguagem’ não tem nenhuma propriedade especial: ela é afetada pelo ambiente da mesma forma que qualquer outro comportamento. Essa é uma virada radical na concepção tradicional de linguagem como algo superior ou como uma ferramenta a ser utilizada por aqueles que a dominam. Sendo comportamento, não pode ser utilizada: é a própria ação; e não pode ser superior porque segue os mesmos princípios de qualquer comportamento. Vamos ver algumas implicações disso.

A primeira delas é que temos que analisar cada comportamento verbal isoladamente. Por exemplo, pedir por água não é igual a dizer água diante dela. Cada um desses comportamentos ocorre em um contexto específico e é aprendido separadamente. Pedimos por água controlados pela sede e o reforçador é o próprio líquido. Dizer ‘água’ quando a vemos está sob controle do estímulo água e o reforçamento é generalizado (não está sob controle de algo específico).

Na formulação de Skinner, portanto, a mesma forma verbal “água” pode ter diferentes funções, e ser capaz de falar “água” em um contexto não é sinal de saber falar “água” em todas as situações possíveis. A partir dessa concepção, Skinner criou algumas categorias funcionais para classificar o comportamento verbal (elas serão o assunto do próximo texto).

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Outra implicação de o comportamento verbal ser operante é o fato de que o repertório de uma pessoa é produto de sua história de reforçamento. O modo como falamos e o quê falamos estão relacionados com os contextos em que fomos ensinados e as respostas que foram reforçadas. Um exemplo: atenção especial a verbalizações de melhora do cliente fazem com que relatos de avanço aumentem, enquanto o aparecimento de queixas diminui. A importância de saber disso é clara: é necessário tomar cuidado para não reforçar somente queixas nem somente melhoras, caso contrário a terapia pode ocorrer de maneira inadequada.

2. Reforçado pela mediação de um ouvinte

Apesar de o comportamento verbal ser operante, ele tem uma especificidade fundamental: é verbal somente o que é reforçado pela mediação de um ouvinte. Ir à cozinha e pegar a água é reforçado pela própria ação de quem se comportou. Pedir por água é reforçado pela ação de alguém que traz a água.

Dada que a especificidade do comportamento verbal é o fato de ele ser mediado, abre-se um grande leque de comportamentos que são considerados verbais pela análise do comportamento. Por exemplo, acenar, piscar o olho, cumprimentar apertando demasiadamente a mão, são comportamentos verbais, pois são reforçados por conta da ação de outra pessoa.

É importante notar que falante e ouvinte são definições funcionais, e não se referem a duas pessoas necessariamente. Assim sendo, uma pessoa pode ser ouvinte de si mesma, reforçando o próprio comportamento. É comum que nos surpreendamos falando conosco mesmo, escrevendo planos em uma agenda ou descrevendo as nossas ações enquanto as executamos.

3. Treinado especialmente para fazê-lo por uma comunidade verbal

Para que possamos dizer que uma pessoa é ouvinte, precisamos estar certos de que ela foi treinada nas especificidades de determinado idioma. Pedir água para um americano poderia não ser reforçado e, portanto, não seria um comportamento verbal. No entanto, pedir “water” resultaria na água. Isso acontece porque a comunidade verbal americana é diferente da brasileira e disso decorre que os falantes e ouvintes dessas comunidades possuem comportamentos verbais próprios.

Síntese

Agora que cada trecho da definição foi apresentado, veja-a novamente: comportamento verbal é um comportamento operante reforçado pela mediação de um ouvinte especialmente treinado para fazê-lo por uma comunidade verbal.

Notem que é uma definição funcional, não fazendo referência a formas específicas de resposta. Uma grande vantagem de se considerar linguagem como comportamento é a possibilidade de analisá-la em suas unidades funcionais e pesquisar maneiras de mudar esse comportamento para o benefício da comunidade. Um terapeuta ou professor experiente podem analisar os comportamentos verbais de seus clientes e alunos, identificando quais assuntos são necessários tratar ou ensinar e que tipo de repertório verbal vale a pena reforçar.

Em seguida, vou descrever os tipos de comportamento verbal e como esse conhecimento pode ser utlizado na prática profissional.

Robson Faggiani

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