Nem todas as memórias que temos são reais. Pesquisadores descobriram ser comum a existência e criação de memórias sobre fatos que nunca ocorreram. Elas podem variar de pequenas distorções de fatos passados a histórias complexas e elaboradas criadas sem nenhuma base real. Essas memórias distorcidas e inventadas são chamadas de falsas memórias, e podem definir nossos sentimentos e comportamentos atuais. Há alguns casos estupendos:
Como narrado aqui, uma enfermeira chamada Nadean Cool procurou um psiquiatra. Depois de algumas sessões de hipnose, lembrou-se de ter participado de cultos satânicos, de ter comido bebês, de ter sido estuprada, ter feito sexo com animais e de ter participado da morte de um colega. Eventualmente, Cool descobriu que nada disso havia ocorrido. Todas as lembranças eram falsas, e haviam sido implantadas acidentalmente por seu psiquiatra. Ela o processou e ganhou a causa, mas não há dúvidas de que foi permanentemente afetada.
Em seu livro de divulgação cientÃfica “O mundo assombrado pelos demônios”, Carl Sagan conta a história de uma jovem que procurou ajuda terapêutica. A garota descobriu que, quando mais nova, sofria abuso sexual do pai. A história de confirmou: o pai também passou a se lembrar de ter abusado da filha; terminou na prisão. Anos mais tarde, pai e filha descobriram que nenhuma daquelas memórias terrÃveis retratavam a realidade. Apesar da feliz descoberta, o estrago criado pelas sugestões do terapeuta já estava feito: o pai havia ido para a cadeira e, provavelmente, a relação com sua filha jamais voltaria a ser a mesma.
Essas duas histórias são fantásticas e verdadeiras, mas nem toda modificação de memória, ou criação de novas memórias, é tão espetacular. Nesta notÃcia, comenta-se do caso de um ator que passou a detestar ovos cozidos depois que foi sugerido a ele que, quando menor, queimou a mão com um ovo quente. Há muitos mais exemplos, ricos em diversidade. Pesquisem também. Sugiro que comecem lendo tudo o que está nesse link (o mesmo do segundo parágrafo).
As falsas memórias são criadas por meio de sugestões intencionais ou acidentais. Também podem ser criadas por estÃmulos do cotidiano. Em todos os momentos se está suscetÃvel a ter as memórias modificadas e, por conseguinte, passar a pensar e sentir de forma enganosa sobre si próprio e os outros.
As pesquisas sobre falsas memórias colocam em cheque a veracidade dos relatos humanos. Mostram a necessidade de novas tecnologias para avaliar a adequação do que as pessoas falam. Atualmente, procura-se identificar o que acontece no cérebro quando se fala a verdade e quando se está mentindo. Mas, no caso de falsas memórias, essa tecnologia pode ser inadequada: as memórias são interpretadas pelo falante como verdadeiras, sejam falsas ou não. Será preciso ir ainda mais longe.
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Na próxima parte da série, vou comentar sobre a influência do psicólogo sobre as memórias do cliente.
Robson Faggiani
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