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O pensamento controlando comportamento

Este texto tem o objetivo de apresentar como a análise do comportamento compreende o controle do pensamento sobre a atividade humana. Foi originado da minha percepção de que muitos estudantes de graduação têm preferência pela psicologia cognitiva em função de esta abordagem falar diretamente sobre a influência do pensamento sobre comportamentos e sentimentos. De modo geral, os estudantes percebem a análise do comportamento como uma disciplina incompleta por não falar diretamente sobre essa influência. Neste texto, vou descrever brevemente sobre a origem do controle pelo pensamento e as diferenças entre a pespectiva cognitiva e a perspectiva comportamental.

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1. Perspectivas diferentes

1.1. Psicologia Cognitiva

A psicologia cognitiva afirma que o pensamento controla o comportamento. Nesta afirmação está implícita a idéia de que pensamentos e comportamentos são de diferentes naturezas, no caso, de que o pensamento é de natureza mais nobre do que o comportamento. Essa perspectiva se chama dualista, pois afirma que o homem é divido em duas partes: mente (abstrato) e corpo (concreto). O problema dessa perspectiva é que ela conduz os cientistas a enfatizarem o pensamento (mente) no controle sobre o indivíduo, e a deixarem a influência do ambiente (concreto) em segundo plano. Fica faltando, portanto, na perspectiva cognitiva, compreender como os eventos ambientais formam o pensamento.

(Alguns psicólogos cognitivos afirmam não separar corpo e mente. Ainda que não os separem filosoficamente, inevitavelmente os separam teoricamente, não fugindo do problema descrito acima).

Para os psicólogos cognitivos, o controle do comportamento funciona como segue (a palavra pensamento está grifada para deixar claro a ênfase emprestada a ela pela psicologia cognitiva):

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eventos ambientais —> pensamento —> comportamento

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Nesse modelo, o pensamento exerce o principal papel na regulação do comportamento, podendo ser tão poderoso que conduz as pessoas a psicopatologias.

O pensamento influencia o modo como o indivíduo percebe o mundo e lida com os acontecimentos. Sendo assim, o objetivo do terapeuta cognitivo é modificar os pensamentos disfuncionais do cliente, de modo que as situações sejam interpretadas sem distorções e o indivíduo possa levar uma vida saudável.

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1.2. Análise do comportamento

A análise do comportamento reconhece a importância do pensamento, seja verbal ou não-verbal, no controle do comportamento. No entanto, tem uma teoria um pouco diferente daquela da ciência cognitiva. Para os analistas do comportamento, o indivíduo é um ser integrado, sendo impossível separá-lo entre mente e corpo. Essa perspectiva conduz à idéia de que tudo que o indivíduo faz é concreto: pensamentos, desejos, sentimentos, imaginação, etc. Ou seja, todos os eventos humanos são de mesma natureza e, portanto, são controlados da mesma forma e obedecem aos mesmos princípios. Em poucas palavras, analistas do comportamento lidam com pensamentos e sentimentos, mas dão a eles o nome de comportamento.

Uma questão é apresentada: comportamentos (pensamentos), então, podem controlar comportamentos? Podem, sim. Existe uma abundante literatura sobre o conceito de regras, que trata dos meios pelos quais a verbalização controla o que o indivíduo faz. Os pesquisadores procuram compreender como o comportamento verbal (seja de outros ou o próprio) controla as ações de um indivíduo.

Os estudos sobre comportamento verbal começaram em 1957, com Skinner, mas se intensificaram a partir dos anos 80. Atualmente, as idéias de que comportamento verbal (seja público, ou privado [pensamento]) exerce controle poderoso sobre o comportamento não-verbal e que pode influenciar a maneira como interpretamos o mundo são amplamente aceitas. Além de pesquisar sobre essas relações, os analistas do comportamento procuram identificar as situações em que o controle verbal é mais poderoso, e as situações em que ele não produz grande influência sobre o comportamento não-verbal.

Para os analistas do comportamento, o controle do comportamento funciona como segue (o termo ambiente está sublinhado para atestar a ênfase emprestada a ele):

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ambiente ——> pensamento ———-> comportamento ——->ambiente
(antecrespconseq)…………(antecrespconseq)

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Para os analistas do comportamento, saber da origem do pensamento é tão ou mais importante do que estudar sua influência sobre o comportamento.

Note-se que tanto pensamento (encoberto) quanto comportamento (público) são compreendidos como a relação entre estímulos antecedentes à resposta, resposta e estímulos conseqüentes à resposta. Na verdade, são os produtos da resposta de pensar que controlam o comportamento não-verbal. (neste texto, estou deixando implícito que o pensamento é verbal, mas Skinner, em 1957, afirmou que existem também pensamento não-verbal, formado por imagens, sons, etc).

É válido, nesse momento, compreender de onde vem o controle verbal e como ele pode se tornar inadequado.

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2. A origem do controle verbal, e seus problemas

Desde bebês, recebemos instruções verbais e ouvimos descrições sobre o ambiente que nos cerca. Nossos pais nos recompensavam quando seguíamos suas instruções e nos puniam quando não as seguíamos. Aprendemos, portanto, desde que nascemos, que devemos obedecer ao que os outros nos dizem. Em outras palavras, nosso comportamento de seguir instruções depende do quanto fomos reforçados a fazê-lo. Conforme crescemos, vamos nos tornando falantes experientes e passamos a utilizar o controle verbal sobre nós mesmos. É um processo longo, que se inicia com falas apenas públicas e evolui para falas privadas (pensamentos).

Nosso comportamento verbal nos ajuda a regular o que estamos fazendo, a organizar nossas ações e a compreender o que acontece no ambiente. Criamos regras (descrições) sobre como o mundo funciona e nos comportamos de acordo com elas, estejam corretas ou não. Está demonstrado em pesquisa que nos comportamentos em função do nosso próprio comportamento verbal ainda que isso nos prejudique (veja bibliografia abaixo).

Como afirmado acima, o comportamento verbal (pensamento) nem sempre é preciso. Muitas vezes podemos nos comportar de maneira inapropriada porque formulamos regras inadequadas sobre o mundo. Por exemplo, podemos deixar de ir trabalhar porque formulamos a regra “as pessoas do meu trabalho não gostam de mim”, sem avaliarmos o modo como nos comportamos em relação a elas. Ou desistimos de uma paquera por criarmos a regra “hoje ela não me cumprimentou, acho que não está interessada”, sem consideramos o fato de que ela pode não ter nos visto. Esses são exemplos de regras que podem nos privar de situações importantes, e que necessitam ser alteradas.

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3. Mudando as regras inadequadas do cliente

Quando a interpretação que um indivíduo faz de uma situação está incorreta, pode ocasionar uma maneira de agir que produz sofrimento. Uma das funções do terapeuta é modificar as interpretações insalubres do cliente sobre a realidade, de modo que ele passe a se comportar satisfatoriamente. Para cumprir essa função, o terapeuta procura mostrar ao cliente maneiras alternativas de interpretar o mundo, questionando suas regras e o incentivando a se comportar de forma diferente para desafiar seu comportamento verbal inadequado.

De certo modo, essas ações são semelhantes ao que os terapeutas cognitivos chamam de reestruturação cognitiva e modificação de pensamentos disfuncionais. Os analistas do comportamento chamam de mudança de regras. A diferença entre ambas as formas de lidar com o problema é que os terapeutas comportamentais compreendem a formulação de regras em uma perspectiva contextual, avaliando quais elementos do ambiente contribuíram para a criação dessas regras, incluindo a história de seguimento de instruções do indivíduo. Além disso, procuram não apenas mudar comportamento verbal (pode-se dizer “pensamentos”), mas também sugerem a execução de novos comportamentos que alterem o ambiente de forma positiva. Os terapeutas comportamentais, em outras palavras, não lidam apenas com o pensamento e o sentimento, mas também com o ambiente “externo” do cliente. Muitos terapeutas cognitivos, reconhecendo a importância das técnicas comportamentais, utilizam-nas largamente como suplemento à modificação do pensamento (prática que deu origem à terapia cognitivo-comportamental).

Pesquisas do grupo de Catania, de Torgrud e Holborn, além de sugestões de outros autores, demonstraram algumas formas mais fáceis de modificar regras:

a. É mais fácil mudar o pensamento de alguém modelando o que a pessoa fala do que instruindo o que a pessoa deve pensar. Ou seja, é mais efetivo apenas fornecer material para a mudança de regras (dicas, perguntas, etc) e permitir que o cliente modifique suas conclusões e pensamentos por si só. É mais efetivo que o cliente perceba que ele mesmo mudou seus pensamentos.
b. Ensinar o cliente como deve falar sobre seu comportamento é mais efetivo do que ensiná-lo sobre como falar sobre o ambiente. Essa prática, porém, conduz ao problema de não dar ao cliente ferramentas para interpretar novas situações. Recomenda-se, portanto, que se ensino a compreender o mundo e como se comportar.
c. É mais fácil modificar pensamentos sobre situações complexas e de difícil interpretação do que de situações simples e de fácil interpretação.
d. Modificar pensamentos do cliente é mais fácil quando ele confia no terapeuta e possui um histórico de obediência a regras.

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4. Conclusão

Tanto terapeutas cognitivos quanto comportamentais preocupam-se com a influência do pensamento, ou controle verbal, sobre o comportamento. Ambas as perspectivas já foram testadas cientificamente com bons resultados. A diferença é que enquanto os terapeutas cognitivos dão ênfase maior ao papel do pensamento, os terapeutas comportamentais preocupam-se principalmente com a situação ambiental que produziu esse pensamento.

Um aspecto positivo da literatura da análise do comportamento sobre controle verbal é a preocupação em realizar pesquisas empíricas que demonstram como as regras modificam atividades não-verbais. Outro aspecto positivo é a amplitude dessa literatura, que considera não apenas o efeito das regras das pessoas sobre seu próprio comportamento, mas também o efeito das regras de outras pessoas sobre o comportamento dos indivíduos. A literatura, ainda, trata das diferenças entre comportamento controlado por regras e comportamento controlado por contingências.

Na minha opinião, a literatura comportamental é mais precisa ao falar de controle verbal. Além de estar baseada em muitas pesquisas, sugere atenção tanto as regras em si quanto ao ambiente responsável pela formulação do comportamento verbal. Finalmente, e mais importante, prefiro porque é uma forma de trabalhar o cliente que dá conta de explicar como o pensamento afeta o comportamento sem necessitar separar o indivíduo em corpo e mente.

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5. Bibliografia, e um aviso final

Este texto está bastante simplificado. A literatura sobre controle verbal é extensa e complexa. Neste texto, foi feito apenas um resumo superficial dos dados. Alguns termos foram utilizados como sinônimos, mas possuem pequenas diferenças. A leitura da biblografia indicada é fortemente recomendada.

Livros e textos que basearam esse texto:

Judith Beck. Terapia Cognitiva: Teoria e Prática. (Livro).
Maria Amélia Matos.
Comportamento governado por regras. (Artigo).
Sonia B. Meyer. Regras e auto-regras no laboratório e na clínica. (Capítulo do livro: Análise do comportamento: pesquisa, teoria e aplicação).
Sonia B. Meyer e colaboradores. Subsídios da obra “Comportamento Verbal” de B. F. Skinner para a terapia analítico-comportamental. (Artigo).
Albuquerque e colaboradores.
Investigação do Controle por Regras e do Controle por Histórias de Reforço Sobre o Comportamento Humano. (Artigo).
Medeiros.
Comportamento verbal na terapia analítico comportamental. (Artigo).
B. F. Skinner. Comportamento verbal. (Livro).
Catania e colaboradores. Instructed versus shaped human verbal behavior: Interactions with nonverbal responding. (Artigo).
Catania e colaboradores. Uninstructed human responding: sensitivity to ratio and interval contingencies. (Artigo).
Catania e colaboradores.
Uninstructed human responding: Sensitivity of low-rate performance to schedule contingencies. (Artigo).
Torgrud e Holborn. The effects of verbal performance descriptions on nonverbal operant responding. (Artigo).

Robson Brino Faggiani

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