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Personalidade para a Analise do Comportamento e o Budismo

Duas filosofias tão distintas oriundas de duas culturas completamente diferentes e que possuem boas semelhanças ,talvez até mais do que queiram admitir os defensores mais ferrenhos do Behaviorismo Radical.

A cultura Oriental, enfatizando as questões espirituais, autoconhecimento, questões éticas e motivacionais e as ocidentais imersas em uma cultura capitalista prezando o observavel, o palpavel e a ciência que valida, testa e retesta.

O quê será que tem em comum o Budismo Chines com o Behaviorismo Radical quando falamos sobre o conceito de personalidade ?
Vamos contextualizar historicamente quando um paradigma de entendimento da personalidade estava vigente.

Quando Skinner começou a estudar e desenvolver sua teoria, o paradigma existente era puramente mentalista dentro da Psicologia. Uma época onde Freud tinha desenvolvido uma teoria psicodinâmica que era sólida e estava sendo difundida no mundo todo. Diferente do que Freud postulou, Skinner começou falando que a mente como agente imaterial responsavel por todos os acontecimentos que aflingiam o homem não existia. Obviamente essa nova postura defendida por Skinner, (já defendida anteriormente por Watson em seu manifesto ) foi recebida com duras criticas.

Antes do primeiro laboratorio de Psicologia experimental de Wundt , os experimentos de Pavlov e o Behaviorismo Metodológico de Watson não existia espaço para o comportamento propriamente dito. Tudo era atribuido ao inconsciente que Freud, Bauer e todos os que vieram junto descreviam tão bem, e no contexto que estavam imersos explicava todos os questionamentos que uma comunidade se fazia. Nessa epoca Freud e seus colaboradores tinham criado teorias para explicar e descrever o que era a personalidade e como ela influenciaria o aparelho psiquico. A teoria do Inconsciente estava em alta.

Para Freud a Personalidade era uma extrutura interna ordenada em EGO, ID e SUPEREGO, organizada como um sistema que permite manter a saude mental equilibrando forças inconscientes entre o ID ( regido pelo principio do Prazer ) e o superego ( a Lei interiorizada adquirida com a resolução do Complexo de Édipo ) com a mediação do EGO.

A Psicanálise era determinista, ou seja, não existe acontecimento interno que não tenha causa. Todo evento mental é causado conscientemente ou inconscientemente e é determinado pelos fatos que a precederam. Fatos esses que podem ser apenas simbólicos e não necessariamente reais. Freud então se dedicou a explicar as ligações inconscientes que uniam os processos mentais que ligavam um evento a outro.

Mas o que eu quero dizer com tudo isso ?
Por quê estou delimitando uma psicologia Ocidental denominada Behaviorismo Radical focada em comportamentos observaveis e mensuraveis e definindo personalidade das correntes psicodinâmicas e falando em Budismo ?
Bom, Skinner diz que a Personalidade como algo imaterial resultado de processos internos do inconsciente simplesmente não existe. A personalidade como um EU separado não poderia existir em uma análise ciêntifica do Comportamento.

É exatamente ai que behaviorismo Radical e Budismo se aproximam e se chocam com o paradigma de entendimento da personalidade até entao vigente, do mentalismo da Psicanálise.
Skinner diz que “ Personalidade é uma coleção de padrões de comportamento onde estimulos diferentes evocam ou produzem diversos tipos de respostas”. Portanto a emissão de respostas é definida pelo histórico de vida denominada Ontogênese, fatores ambientais e fatores biológicos denominada Filogênese.

Essa nova definição entre a relação do Ambiente, história de vida e Cultura se propõe a mudar o paradigma de personalidade mentalista para um paradigma Behaviorista, onde o Inconsciente é ignorado dando lugar a definição de Niveis de Seleção ( Filogenéticos, Ontogenéticos e Culturais ) como determinantes para a formação da personalidade e não mais como um Eu interno inconsciente, mas como um conjunto de comportamentos que podem ser previstos e controlados.

Skinner responde aos criticos que se relacionarmos o EU ou EGO em comportamento observavel, não existiria a necessidade de falar em personalidade como um eu interior e imaterial que só pode ser descrito ou estudado metafisicamente. O budismo fala a mesma coisa que Skinner afirmou. A filosofia Budista tambem não acredita que exista uma entidade chamada personalidade, algo imaterial e interno criada a partir de conteudos inconscientes e simbólicos. Os budistas, assim como Skinner revelam que existe uma superposição de comportamentos e sensações, mas que nenhuma delas é permanente pois fazem parte de um jogo que é mutavel e constantemente alterado pelo ambiente.

Skinner e os budistas desenvolveram a sua filosofia com base no pressuposto que não existe EU ou Personalidade exceto se considerarmos personalidade como um conjunto de comportamentos observaveis. Tanto o Budismo quanto o Behaviorismo Radical enfatizam que conhecer as causas reais dos comportamentos como resultado de uma história do Ambiente e aspectos Biológicos ajudam a entender o por quê as pessoas se comportam como se comportam. O proprio Skinner diz que “Os maiores problemas enfrentados hoje pelo mundo só poderão ser resolvidos se melhorarmos nossa compreensão do comportamento humano (…) O behaviorismo oferece uma alternativa promissora…” (Skinner, 1974/2004, p.11).

Ambas teorias divergem quanto as causas, pois o Budismo considera os fatores Motivacionais e Éticos e Skinner permanece focado no comportamento em sí entendendo e buscando causas no determinismo ambiental e nas consequências que essas mesmas respostas provocavam no ambiente aumentando ou diminuindo a frequência que uma determinada resposta aconteceria.
Atualmente tem uma boa discussão sobre Fatores Motivacionais e Éticos dentro da Analise do Comportamento.

Alias uma das mais “novas” técnicas utilizadas pela ACT, DBT e FAP é uma adaptação de técnicas budistas de meditação chamada “Minfullness”, e está substituindo alguns dos procedimentos há muito utilizados pelas Terapias Cognitivas Comportamentais para lidar com Comportamentos de Fuga/esquiva. Apesar do mind ( mente ) no nome da técnica, que deixa os Behavioristas mais ortodoxos de cabelos em pé, ela não tem nada de mentalista.

De fato existem muitas relações entre a psicologia Ocidental e as culturas Orientais. Não existe psicologia no Oriente, pois as filosofias orientais buscam fazer exatamente o que a psicologia ocidental se propoe. Aumentar a qualidade de vida e saude dos organismos desse planeta.

Por : Marcelo C. Souza

Posted in Beh. Radical, Ciência, Epistemologia, Psicoterapia. Tagged with , , .

6 Responses

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  1. THAIS MAIA said

    Muito interessante mesmo!!!
    Onde posso ler mais sobre essa ligação(BR/Budismo) e essas técnicas(Minfullness)?
    Obrigada!

  2. Rodrigo said

    Olá, Thais.
    Você pode encontrar em qualquer dos manuais de psicoterapia relacionados à ACT – Acceptance and Commitement Therapy. Um belo exemplo é o livro de Steven Hayes chamado Get out of your mind and get in into your life. Infelizmente toda a literatura disponível é americana, mas aí você de quebra já dá uma praticada no inglês.

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  3. Géssica Denora said

    Gostaria de saber se vocês tem algum artigo disponível sobre DRA, ou poderiam falar um pouquinho disso no site!?

    Obrigada!

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  4. ana carolina said

    Gostei muito do texto..
    será que vocês poderiam disponibilizar as referencias utilizadas na construção do texto?

    obrigada!

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  5. Gustavo said

    Olá, me considero um adepto da filosofia budista Theravada (Budismo tradicional) e foi por esta via que comecei a cursar psicologia. Na psicologia comecei a descartar os aspectos cosmológicos da religião e o que encontrei foi um código de comportamento muito forte. E na psicologia estou me voltando para a cognitivo-comportamental. Para corroborar seu texto, um post de um blog comportamental, não lembro o qual:

    “Capítulo 3 do Dhammapada, chamado “Citta Vaga”, cujo tema é a mente.

    Vejamos como B. F. Skinner poderia ler esse trecho do clássico budista, traduzindo-o para conceitos comportamentais:

    “A mente é difícil de ser controlada.. difícil de ser percebida… O sábio a domina, pois uma mente controlada conduz a felicidade”

    Antes de mais nada, a palavra original para mente no texto é Citta, que traduz-se literalmente por “pensar”, “ter consciência de algo”. Ou seja, para o budismo a mente não é uma entidade, (que seria expressa por substantivo), mas um comportamento (expresso por um verbo).

    A tradução do trecho do Dhammapada acima, para termos comportamentais, poderia ser algo como: “O pensar é um processo difícil de ser controlado, pois ele envolve diversos fatores, alguns acessíveis ao pensador, outros não. Porém controlar esses fatores que determinam o pensar conduz a felicidade”.

    OBS: Classicamente, os fatores que determinam o pensar podem ser controlados com uma vida comedida em termos de dieta, exercícios, hábitos virtuosos e acima de tudo, exercício da meditação e da compaixão.

    “A mente é precursora de todos os estados. A mente é o chefe. Todos os estados são confeccionados pela mente. (…) Aquele que vive imerso em vícios, sem virtude, logo é controlado por suas ilusões, e não tem dignidade”.

    Ok, aqui entramos em uma clássica questão Comportamental: a impossibilidade da “mente” ser a causadora de comportamentos.

    Mas note como imediatamente após a declaração de “A mente é quem manda” vem logo a advertência sobre hábitos e vícios. A fórmula que Buda oferece parece ser: discipline a forma como você se comporta e você disciplinará seu pensar.

    E como obter essa disciplina?

    São prescrições budistas para isso:

    – meditar

    – fazer jejum regularmente

    – evitar matar, roubar, mentir, etc

    – exercer compaixão pelos outros

    – etc.

    O pensar é visto, no Budismo, como um agregado de processos que forma a consciência (uma vez que somados ao perceber, ao sentir, a informação sensorial, etc). O agregado “Pensar”, por sua vez, foi determinado por outros agregados, como o sentir (emoções) e o perceber (5 sentidos). Assim,a mente não é uma criadora incriada: ela é determinada pela relação com o ambiente (nossos sentimentos, sensações e percepções depende da interação com o ambiente).

    Logo, o que o Dhammapanda está no dizendo, sua grande lição, em termos comportamentais, é: “Comporte-se adequadamente, exercendo hábitos virtuosos, e mesmo seus pensamentos serão controláveis, e assim você será mais feliz”.”

  6. pretendo ser melhor sempre mais isso me parece ser um grande infinito de se melhorar a se mesmo

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