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Por que o ato de bocejar é contagiante?

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Certamente você já observou ou até mesmo já foi contagiado por este fenômeno, basta uma pessoa bocejar na sua frente que geralmente uma vontade incontrolável emerge e nos faz bocejar também.

Brincadeira a parte, bocejar é um tipo de comportamento presente na espécie humana e não só nela. Estudos realizados com chimpanzés mostraram que os mesmos não conseguiram resistir ao impulso quando foram expostos a imagens animadas de outros chimpanzés bocejando. Existem também estudos mostrando que cães também bocejam. Provavelmente a origem do bocejo é rudimentar e está atrelada a história filogenética de diversas espécies.

O bocejo é uma resposta reflexa, assim como, o contrair da pupila, o reflexo patelar, o chorar quando se corta cebola, o sugar do bebê e etc. Trocando em miúdos, trata-se de respostas emitidas pelo organismo eliciadas por estímulos específicos. No caso do bocejar sabe-se que provavelmente o que gera a resposta é a baixa concentração de oxigênio no cérebro, fazendo assim o organismo se manter no estado de vigília levando o sono para longe.

Mas ainda não foi dito: por que ao ver outro bocejar, nós bocejamos ?

Neste caso, o que difere do bocejar sem ver alguém bocejando é o estímulo desencadeante, o bocejar alheio é um estímulo externo que desencadeia o nosso bocejar. A sensibilidade ao bocejar alheio provavelmente é inata, ou seja, ela é transmitida por nossos ancestrais através de uma carga genética, igual a todos os outros nossos comportamentos reflexos.

Estes tipos de comportamentos foram selecionados pelo ambiente ao longo da evolução da espécie (podemos depois discutir o porquê este comportamento foi, outrora, importante para as espécies) a fim de garantir a sobrevivência da mesma, um comportamento reflexo inato ou simplesmente um reflexo inato, como já foi dito, é uma relação entre um estímulo e uma resposta que não depende de condicionamento prévio e, por isso, bocejamos ao ver outra pessoa bocejar.

Porém, muitos estudos mostram que nem todos os indivíduos apresentam essa sensibilidade ao bocejar alheio, nestes casos, podem existir duas explicações cabíveis: insensibilidade ao estímulo ou aprendizagem.

A insensibilidade ao estímulo ocorre, pois o organismo pode não ter recebido essa sensibilidade através de seu gene devido a diversas mutações que o mesmo sofreu durante a história filogenética de sua família (filogêneses) e não podendo ser transmitido dos pais para sua prole.

Na segunda ocasião, o organismo pode ter nascido sensível ao estímulo, porém pode ter perdido a sensibilidade através de processos de aprendizagem durante sua história de vida (ontogêneses). O bocejar como reação ao bocejar alheio é, a princípio, um comportamento reflexo, mas pode deixar de ser através de suas experiências de vida.

*A equipe Psicologia e Ciência agradece a Rodrigo Elias Fantini  ( ro_2005_22@hotmail.com ) pela contribuição ao  site com o presente texto.

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Bullying – O terrorismo psicológico

bullyingUma das maiores preocupações da Psicologia e dos educadores sem duvida é o Bullying. A palavra não tem uma tradução exata e no português é traduzida mais ou menos como “assedio moral”.

O bullying já é uma patologia social. É definido como a imposição de sofrimento intencional em relações de desigualdade. Para exemplificar, podemos falar de um aluno dito “popular” de uma escola que faz de tudo para humilhar e expor um defeito (às vezes nem tão aparente) do colega que só tira notas altas ou então o rapaz musculoso que inferniza a vida de um colega mais fraco fisicamente ou um “tímido” que é exposto de forma que cause maior constrangimento possível. No Brasil a forma mais típica de Bullying são os apelidos humilhantes exaltando defeitos físicos e as agressões físicas.

O Bullying infelizmente é presente no mundo todo e em alguns países, as vitimas cometem atos extremos com mais freqüência como homicídios e suicídio como vimos nos recentes ataques em escolas dos Estados Unidos, onde vitimas de Bullying invadiram a própria escola com armas pesadas e assassinaram muitos colegas e logo após cometeram suicídio. Nas cartas deixadas pelos suicidas, vemos referencias as constantes humilhações que passaram e que tomados pela depressão e transtornos de ansiedade não viram outra forma de acabar com o sofrimento que não fosse com o suicídio, mas não antes de levar todos os agressores consigo. Uma explosão de raiva e ódio sem limites como reação ao que sofreram.

No Brasil, é mais raro acontecer assassinatos como resultado de anos de humilhações e agressores físicas que as vitimas sofrem. Porem, a taxa de suicídios é alta, mas infelizmente é velada. Medicamente o Bullying não é reconhecido como causadora de suicídios (que são atribuídos a depressão, que por sua vez foi resultado direto da vitimização).

Cyber Bullying :

Infelizmente, estão sendo criadas novas formas de humilhação. Alem do bullying tradicional que envolve humilhações e agressão física, hoje em dia temos o Cyber Bullying, que é a pratica de humilhação e exposição publica caluniosa e difamatória através da Internet. Essa é uma forma mais agressiva do Bullying tradicional, já que calunias e difamações por internet têm um alcance muito maior e conta com o anonimato do agressor. Ele não precisa mais ser uma pessoa forte ou popular, pode ser feita por qualquer um, inclusive vitimas em busca de vingança. Um exemplo claro são os perfis falsos em redes de relacionamentos.

Segundo a delegacia de crimes virtuais, essa é a pratica mais comum de Cyber Bullying. Cria-se um perfil falso da vitima com informações reais como telefone, endereço e fotos e se relaciona a comunidades que podem ser aversivas e difamatórias. Como uma mulher ter seu perfil com descrição de garotas de programa ou um menino ter seu perfil associado a comunidades ligadas a pedofilia ou mesmo fazendo montagens com fotos. Geralmente com fundo pornográfico.

Cabe ressaltar que não se tem uma legislação especifica sobre crimes virtuais, mas já existe jurisprudência no cyber espaço e em breve deve ser regulamentada leis especificas.

O Bullying marca vidas :

As marcas que ficam nas vítimas de bullying são muito fortes e infelizmente, na maioria das vezes mudam permanentemente a vida das vitimas. As marcas mais comuns são: Depressão, baixa auto-estima, muita dificuldade em relacionamentos sociais e muitas vezes transtornos de ansiedade se instalam.

O importante é ressaltar que o atendimento psicológico oferece resultados promissores em relação a todas essas marcas, principalmente as terapias de abordagem comportamental.

Claro que não se pode mudar o passado, mas com o atendimento psicológico podemos fazer um “controle de danos” e com isso saber lidar com os problemas decorrentes antes que esses se agravem.

Com os anos de atendimento clinico, percebo que as vitimas de Bullying paralisam e não conseguem ver que precisam de ajuda. Tenho percebido que o discurso é sempre depressivo e muitos acham que não tem possibilidade de mudar. Julgam que não tem nada a fazer alem de se acostumar e esperar o tempo passar para ver se melhora. Muitas vezes se sentem até responsáveis por serem vitimas. Infelizmente as coisas não funcionam assim e o tempo não ajuda a melhorar.

Mudar de escola resolve ??

Existe uma crença de que mudar de escola ou mudar de cidade vai fazer que a pessoa deixe de ser vitima. Infelizmente também não funciona, pois o padrão comportamental da pessoa em questão vai fazer com que seja atacada em qualquer lugar. Vai virar alvo na casa nova, na escola nova ou em qualquer lugar que esteja. O problema é o padrão comportamental que predispõe uma pessoa a ser vitima e esse padrão é justamente o que precisa mudar. Nesse ponto o atendimento psicológico de orientação Comportamental é fundamental, pois vai desenvolver novos repertórios comportamentais incompatíveis com o perfil das vitimas de Bullying (geralmente pessoas tímidas, caladas e com baixa auto-estima).

A vitima precisa de orientação.  Isso inclui ir a delegacias especializadas em crimes virtuais ou então procurar atendimento jurídico, psicológico e medico sempre que precisar.

O Bullying deve ser sempre combatido e jamais tolerado em escolas ou qualquer outro lugar. Já se tem informações que esta dentro das empresas e academias. Cabe lembrar que não é só aquele que pratica o Bullying que é o agressor. Na verdade, os espectadores que não fazem nada e ainda dão risada da vitima que esta sendo humilhada é tão agressor quanto o Bullyer (como é chamado o agressor principal), são chamados de agressores passivos e são esses agressores que reforçam o comportamento do agressor que por sua vez aumenta muito a freqüência dos comportamentos agressivos pois obtém reforço social.

É um problema muito serio que marca vidas, talvez se as pessoas entendessem que Bullying não é bobagem e que não é uma brincadeira de mau gosto como muito se prega e sim uma agressão psicológica e muitas vezes física também que deixa marcas para toda uma vida.

Então, você quer ser uma vitima para sempre ou quer mudar sua vida?

Procure seus pais, o diretor da escola, um psicólogo qualificado e competente e conte o problema. Não se silencie, não deixe que a situação se agrave.

Por : Marcelo C. Souza

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Conceitos básicos de AC – parte 9 – Comportamento Verbal – Definição

brasil-330x220-lac-young-people-talkingO modo como a ‘linguagem’ é definida e estudada na abordagem analítico-comportamental reverte inteiramente as idéias com as quais estamos acostumados e apresenta uma forma prática e científica de investigar a origem, o que mantém e como classificar funcionalmente comportamentos verbais. Não cabe nos objetivos deste texto discutir as críticas aos sistemas tradicionais de entendimento da linguagem, portanto, é válido partir direto para o comportamento verbal de acordo com a análise do comportamento.

Dada a extensão do tema, vou dividi-lo em partes. Nesta primeira, vou definir comportamento verbal e comentar algumas de suas implicações. Depois, vou comentar sobre os diferentes tipos de operantes verbais e como eles podem ajudar na prática profissional.

Em consonância com o Behaviorismo Radical, Skinner definiu comportamento verbal como um (1) comportamento operante (2) reforçado pela mediação de um ouvinte (3) especialmente treinado para fazê-lo por uma comunidade verbal.

1 – Comportamento operante

Definir comportamento verbal como operante significa dizer que a ‘linguagem’ não tem nenhuma propriedade especial: ela é afetada pelo ambiente da mesma forma que qualquer outro comportamento. Essa é uma virada radical na concepção tradicional de linguagem como algo superior ou como uma ferramenta a ser utilizada por aqueles que a dominam. Sendo comportamento, não pode ser utilizada: é a própria ação; e não pode ser superior porque segue os mesmos princípios de qualquer comportamento. Vamos ver algumas implicações disso.

A primeira delas é que temos que analisar cada comportamento verbal isoladamente. Por exemplo, pedir por água não é igual a dizer água diante dela. Cada um desses comportamentos ocorre em um contexto específico e é aprendido separadamente. Pedimos por água controlados pela sede e o reforçador é o próprio líquido. Dizer ‘água’ quando a vemos está sob controle do estímulo água e o reforçamento é generalizado (não está sob controle de algo específico).

Na formulação de Skinner, portanto, a mesma forma verbal “água” pode ter diferentes funções, e ser capaz de falar “água” em um contexto não é sinal de saber falar “água” em todas as situações possíveis. A partir dessa concepção, Skinner criou algumas categorias funcionais para classificar o comportamento verbal (elas serão o assunto do próximo texto).

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Outra implicação de o comportamento verbal ser operante é o fato de que o repertório de uma pessoa é produto de sua história de reforçamento. O modo como falamos e o quê falamos estão relacionados com os contextos em que fomos ensinados e as respostas que foram reforçadas. Um exemplo: atenção especial a verbalizações de melhora do cliente fazem com que relatos de avanço aumentem, enquanto o aparecimento de queixas diminui. A importância de saber disso é clara: é necessário tomar cuidado para não reforçar somente queixas nem somente melhoras, caso contrário a terapia pode ocorrer de maneira inadequada.

2. Reforçado pela mediação de um ouvinte

Apesar de o comportamento verbal ser operante, ele tem uma especificidade fundamental: é verbal somente o que é reforçado pela mediação de um ouvinte. Ir à cozinha e pegar a água é reforçado pela própria ação de quem se comportou. Pedir por água é reforçado pela ação de alguém que traz a água.

Dada que a especificidade do comportamento verbal é o fato de ele ser mediado, abre-se um grande leque de comportamentos que são considerados verbais pela análise do comportamento. Por exemplo, acenar, piscar o olho, cumprimentar apertando demasiadamente a mão, são comportamentos verbais, pois são reforçados por conta da ação de outra pessoa.

É importante notar que falante e ouvinte são definições funcionais, e não se referem a duas pessoas necessariamente. Assim sendo, uma pessoa pode ser ouvinte de si mesma, reforçando o próprio comportamento. É comum que nos surpreendamos falando conosco mesmo, escrevendo planos em uma agenda ou descrevendo as nossas ações enquanto as executamos.

3. Treinado especialmente para fazê-lo por uma comunidade verbal

Para que possamos dizer que uma pessoa é ouvinte, precisamos estar certos de que ela foi treinada nas especificidades de determinado idioma. Pedir água para um americano poderia não ser reforçado e, portanto, não seria um comportamento verbal. No entanto, pedir “water” resultaria na água. Isso acontece porque a comunidade verbal americana é diferente da brasileira e disso decorre que os falantes e ouvintes dessas comunidades possuem comportamentos verbais próprios.

Síntese

Agora que cada trecho da definição foi apresentado, veja-a novamente: comportamento verbal é um comportamento operante reforçado pela mediação de um ouvinte especialmente treinado para fazê-lo por uma comunidade verbal.

Notem que é uma definição funcional, não fazendo referência a formas específicas de resposta. Uma grande vantagem de se considerar linguagem como comportamento é a possibilidade de analisá-la em suas unidades funcionais e pesquisar maneiras de mudar esse comportamento para o benefício da comunidade. Um terapeuta ou professor experiente podem analisar os comportamentos verbais de seus clientes e alunos, identificando quais assuntos são necessários tratar ou ensinar e que tipo de repertório verbal vale a pena reforçar.

Em seguida, vou descrever os tipos de comportamento verbal e como esse conhecimento pode ser utlizado na prática profissional.

Robson Faggiani

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Conceitos Básicos de AC – Parte 8 – Esquemas de reforço.

Grande parte de nossas respostas não são reforçadas em 100% das vezes em que são emitidas. Por exemplo, não são todas as vezes em que você liga a sua televisão que você encontra alguma coisa interessante para assistir – o comportamento “ligar a  televisão, neste caso, não é reforçado todas as vezes-, mas mesmo assim você volta a  ligá-la em outra ocasião.

Se um comportamento é mantido por reforço, como explicar o fato de que ele volta a ocorrer mesmo não sendo reforçado em todas às vezes?

É aí que entra o que os Analistas do Comportamento chamam de “Esquemas de reforço”, conceito que traz consigo a idéia de que não só a apresentação de uma consequência vai alterar a  frequência de ocorrência de uma resposta, mas também, o modo ou esquema em que esta consequência é apresentada irá exercer controle sobre ela.

Na natureza existem diversos esquemas de reforço. Este texto, no entanto, irá se prender apenas aos principais.

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Esquema de Reforço Contínuo (CRF)

No esquema de Reforço Contínuo (CRF), todas as respostas – sem exceção -, são reforçadas. Para compreender melhor, pense naquele namorado apaixonado que realiza todos os pedidos de sua namorada. Ele simplesmente não nega nada a ela. Todas as vezes que o comportamento da namorada”pedir algo” é emitido, ele  é reforçado. Este é o esquema de reforço mais adequado para que um determinado comportamento seja modelado.

Esquemas de reforço intermitente.

Agora, imagine um outro casal de namorados em que, nem todos os pedidos da namorada são atendidos pelo rapaz. Ele atender ou não, obedece a alguns critérios, dentre os quais podem estar a quantidade de vezes (insistência) em que a namorada pede, ou o tempo (espera) entre um pedido e o outro. A este esquema, os Analistas do Comportamento chamam de “Esquema de reforço intermitente”.

O esquema de reforço intermitente é tido como o mais eficaz na manutenção de respostas já modeladas. Uma de suas principais características, é tornar a resposta mais resistente à extinção; isto é, pode ser emitida mais vezes sem que necessariamente o reforçador tenha de ser apresentado.

Os esquemas de reforço intermitente dividem-se em Esquemas de Razão e Esquemas de Intervalo. Nos esquemas de razão, a apresentação do reforçador depende da quantidade de vezes em que uma resposta é emitida. Nos esquemas de intervalo, a apresentação do reforçador depende do tempo decorrido entre uma e outra apresentações do reforçador.

Esquemas de Razão.

Os esquemas de Razão dividem-se em Esquemas de Razão Fixa (FR) e Esquemas de Razão Variada (VR).

Nos esquemas de Razão Fixa (FR), o organismo deve emitir uma quantidade fixa e invariável de respostas para que o reforçador seja apresentado. A quantidade de respostas não varia entre um reforçador e outro.

Pense naquele vendedor de botas de couro que só recebe o seu salário a cada 30 botas vendidas. Antes que ele consiga vender as 30 botas, o seu patrão não lhe paga. Neste caso, temos um esquema de reforço de Razão Fixa (FR = 30), no qual a cada 30 (essa quantidade não varia) botas vendidas o reforçador é apresentado.

Este esquema é caracterizado pela alta taxa de respostas produzidas, uma vez que, como o reforço depende única e exclusivamente do responder do organismo, se ele responder com rapidez, irá produzir reforço também com maior rapidez. Logo após o reforço, o organismo demora um pouco para voltar a responder. Este tempo é chamado pausa após reforço. Esta pausa é atribuída ao fato de que não há produção de reforço imediatamente após um reforçamento anterior, permitindo discriminar de maneira clara que o próximo reforçador não estará disponível imediatamente após a primeira resposta emitida.

No esquema de Razão Variável (VR), a quantidade de respostas exigida para a apresentação do reforçador não é fixa. Ela varia.

Um cabeleireiro corta cabelos neste esquema. Se ele recebe uma quantia de oito reais por corte, o reforço será contingente ao número de tesouradas que ele dará no cabelo de cada pessoa. No entanto, o número de tesouradas necessárias para cortar o cabelo de cada pessoa varia, o que significa que a razão (quantidade de tesouradas) é variável (VR).

Este esquema é caracterizado por pausas curtas, ou mesmo ausência de pausa após reforço. Isso ocorre porque não há como discriminar se o número de respostas para o próximo reforço é grande ou pequeno, uma vez que é variável. Este esquema é o que produz maiores taxas de respostas, já que exigem um número indeterminado de respostas para a disponibilização do próximo reforço, e por não apresentarem pausas após reforço. Para fazer alguém trabalhar muito e ganhar pouco, este é o esquema mais indicado.

Esquemas de Intervalo.

Nos esquemas de intervalo, a quantidade de respostas emitidas entre a apresentação de um reforçador e outro é irrelevante. Basta que alguma resposta seja emitida, de acordo com o intervalo. O que de fato determina se o reforçador será ou não apresentado, é o tempo decorrido desde a ultima apresentação de reforço.

Este esquema também se subdivide em Fixo e Variável.

No esquema de Intervalo Fixo (FI), o período exigido entre a apresentação do último reforçador e a disponibilidade do próximo reforçador é sempre o mesmo. Por exemplo, um atleta em treinamento recebe um beijo de sua namorada a cada 20 minutos de treino. Antes que ele complete os 20 minutos, sob hipótese alguma a sua namorada o beijará. Neste caso, temos um esquema de reforçamento de Intervalo Fixo (FI = 20).

Este é o esquema que produz as menores taxas de respostas. Os motivos pelos quais isso acontece, são 1) não é exigido um número mínimo de respostas para que o reforço seja disponibilizado; ou seja, tanto faz se o organismo responde muito ou pouco. O que importa para que o reforçador seja apresentado, é a resposta ser emitida no momento certo. E, 2) é o esquema que produz as maiores pausas após reforço. A discriminação temporal entre o reforçamento e o não reforçamento é facilitada pela regularidade dos intervalos.

O esquema de Intervalo Variado (VI) tem o mesmo raciocínio que o de intervalo fixo, com a diferença de que, no esquema em questão, os intervalos (tempo) entre o último reforçador e a próxima disponibilidade não são os mesmos, ou seja, são variáveis.

Achar uma música agradável no rádio está sob controle deste esquema. De tempos em tempos é possível encontrar, mas nunca se sabe quanto tempo exatamente é preciso ficar procurando pra achar.

Este esquema, apesar de ser um esquema de intervalo, produz um padrão com uma taxa relativamente alta de respostas. Não há como prever quando o próximo reforçador estará disponível. O organismo responderá quase o tempo todo. Caso ele fique muito tempo sem responder, perderá reforços; deste modo, permanecerá respondendo moderadamente o tempo todo.

Esequias Caetano de Almeida Neto.

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Conceitos Básicos de AC – Parte 7 – Contexto (Controle de Estímulos)

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Compreender a ideia de contexto é um excelente passo para se começar a entender a Psicologia. Nós, psicólogos (sejamos analistas do comportamento ou não) adoramos este conceito. Para ser honesto, a noção de contexto não é querida apenas por psicólogos, mas por todos os cientistas que lidam com aspectos da conduta humana. A paixão pelo termo deriva de um fato muito simples: ele ajuda a tornar clara a complexidade humana.

Dada a amplitude da noção de contexto e sua apropriação por diversas áreas, não cabe neste texto explicar cada um dos seus usos. Ao invés disso, discutirei como contexto é definido e utilizado na análise do comportamento (no entanto, não vou falar sobre cultura).

Vamos começar, então. O primeiro passo é esquecer o nome “contexto” e entender o que é “controle de estímulos”.

Controle de Estímulos

A história começa com pombos e ratos. Acalmem-se, chegaremos até o conceito de atenção. Por enquanto, vamos entender como animais ‘inferiores’ podem nos ajudar a compreender comportamentos humanos complexos.

No início dos seus estudos, Skinner colocava ratos e pompos em caixas de condicionamento (popularmente conhecidas como caixas de Skinner). Os animais podiam ganhar alimento ou água caso fizessem alguma coisa que o investigador julgasse bacana. Geralmente, os experimentadores achavam supimpa que os pombos bicassem um disco e os ratos pressionassem uma barra. E assim era. Quando eles emitiam esses comportamentos podiam se regozijar em um delicioso banquete de água e ração. Skinner percebeu que todo comportamento que precedia o banquete ocorria com mais frequência. A relação era relativamente simples: uma resposta (pressionar a barra) produzia um estímulo (o banquete). A comida produzida fortalecia a resposta que a precedia. Esse fenômeno é chamado de reforçamento. Você pode ler sobre ele aqui. Divirta-se.

O conceito de reforçamento abalou a Psicologia. Mas Skinner, que nunca foi um cara distraído, percebeu que havia mais na relação comportamental do que simplesmente o reforço. Ele notou que o contexto (olha ele aí) controlava o comportamento e fez experimentos que demonstraram que isso de fato ocorria. Os experimentos eram muito simples, mas mudaram o mundo dos pombos e ratos. Agora, os animais só podiam desfrutar de seu banquete caso uma luz colorida estivesse acesa. Quando ela estava apagada, os animais não recebiam suas delícias; não importava se dançassem, cantassem ou recitassem Shakespeare, não havia comida com a luz apagada.

Resumindo: com a luz acesa, pressionar a barra produzia água. Com a luz apagada, nada feito. Inicialmente, os animais agiam da mesma forma quer a luz estivesse ligada ou não. No entanto, não demorava muito para que eles passassem a pressionar a barra apenas com a luz acesa. Parecia que os ratos “sabiam” que só poderiam mergulhar em ração quando a luz banhasse sua calorosa morada. Skinner assim definiu o ocorrido: “a luz sinaliza a disponibilidade do reforçador contingente à resposta”. Traduzindo em palavras mais normais, os estímulos controlam o comportamento por estarem relacionados a eventos reforçadores. Eis uma notação do ocorrido:

contexto –> resposta –> resultado

luz acesa –> pressionar a barra –> luxuoso banquete

luz apagada –> pressionar a barra –> nada não

Diz-se que a resposta de pressionar a barra está sob controle da luz: daí o termo “controle de estímulos”.

Olhando a notação acima, é comum pensar “até eu que sou mais bobo deixaria de pressionar a barra com a luz apagada”. Eu não poderia concordar mais. Acontece que essa descoberta simples ajudou a entender o que é a percepção. Vamos a ela?

Percepção

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Lá está você, mais jovem, aprendendo o que são garotos(as). Inicialmente, você se comporta “como uma metralhadora” e atira seus papos e esforços para todos os lados. Depois de muitas falhas e algumas conquistas, você quase que automaticamente passa a notar um padrão bem claro. As pessoas que te olham e sorriem são aquelas com quem a conversa flui melhor. Com o tempo, sua percepção é aguçada e seus esforços não são mais desperdiçados; seu alvo é claro: a pessoa com sorriso aberto e olhar insinuante. É isso: você percebe os sinais. Já que o rato ganhou uma, eis também para você uma notação do ocorrido:

pessoa bacana sorrindo –> puxar conversa –> papo agradável (beijos, até)

pessoa bacana séria –> puxar conversa –> tente outra vez

Nesse momento, algo deve ficar claríssimo: aprendemos a perceber somente os objetos e eventos relacionados ao que nos é importante de alguma forma. É o que ocorre após a resposta (seu resultado) que produz a percepção. Você não teria aprendido a diferenciar qual o melhor tipo de pessoa para paquerar se não tivesse resultados diferentes em situações diferentes. Foi o papo agradável, no seu caso, e a água, no caso do rato, que tornaram a luz acesa e os sorrisos eventos a serem notados. Se você obtivesse a mesma consequência com pessoas sorridentes e sérias, o sorriso não seria algo notável.

Pense em profissionais de diferentes áreas. Um dermatologista é capaz de dizer muito mais sobre um pedaço da pele do que você. Um psicólogo experiente parece ter uma percepção quase sobrenatural sobre os padrões de comportamento de alguém. Um bom engenheiro pode dizer sobre os pontos fortes e fracos de uma casa apenas observando suas colunas. Os pintores olham para um quadro e são capazes de descrever a direção das pinceladas, a técnica utilizada e o estilo do autor. A percepção aguçada dos bons profissionais é resultado de treino especial para detectar detalhes que outras pessoas não notam; é isso o que os faz especialistas. Mas eu disse que o controle pelo contexto (o controle de estímulos) é estabelecido por sua relação com algo importante. O que os profissionais ganham sabendo se comportar de forma diferente diante de estímulos específicos? Ora, para começar, dinheiro. E, mais importante ainda, sucesso e reconhecimento por algo que fazem bem.

É comum a muitas correntes da Psicologia, e mesmo pessoas leigas, afirmarem que a Percepção é pessoal e moldada pela experiência de cada um. Isso não podia ser mais verdade. Uma árvore é percebida de forma diferente por pessoas distintas. Um lenhador, por exemplo, que aprendeu sobre diferentes tipos de madeira durante sua profissão, provavelmente percebe a árvore em termos financeiros. Um casal de namorados pode perceber a árvore como um espaço romântico para estender uma toalha e dizer palavras de amor. O lenhador e os namorados percebem a árvore de forma diferente, pois ela está relacionada com consequências e respostas distintas para eles.

O exemplo dado acima é satisfatório, mas o comportamento humano é muito mais complexo. O lenhador pode perceber a árvore de forma diferente em contextos diferentes. Quando ele põe sua roupa de trabalho e é pressionado pelo chefe, uma árvore é dinheiro. Por outro lado, se ele está passeando com sua namorada em um parque, uma árvore pode lhe parecer o local perfeito para o amor. Essas aparentes, e falsas, contradições ocorrem porque o comportamento é, geralmente, controlado por muitos estímulos simultaneamente. Eis uma notação do comportamento do lenhador nos dois exemplos dados:

no trabalho + árvore –> derrubar –> dinheiro

com a namorada + árvore –> conversar –> carinhos e palavras de amor

SinaisTr_nsitoFemininoHá algo a ser dito. Vejam como cada contexto controla uma resposta diferente. Por que? Porque se o lenhador levar a namorada para conversar debaixo de uma árvore no meio do trabalho, vai ser mandado embora. Da mesma forma, se derrubar uma árvore no parque quando passeia com a namorada, provavelmente levará um fora. Os diferentes contextos controlam respostas diferentes porque cada contexto está relacionado a um reforçador específico. No caso, ora dinheiro, ora carinho.

Chega de percepção. Como faço para manter a atenção de vocês? Vamos ver!

Atenção

Assim como a percepção, a atenção está relacionada a consequências importantes para o comportamento. Vamos ao exemplo que vocês adoram: a paquera. Quando você está em um bar à procura de alguém interessante, você deliberadamente olha para todos os lados procurando o sinal da fortuna: sorrisos. Em outras palavras, você está “atento”. Atentar, nesse sentido, nada mais é do que procurar por uma indicação de que algo interessante está disponível. Achar esse sinal é importantíssimo para as pessoas. Para os animais também! O pombo que ganha água quando bica o disco na presença da luz azul e nunca da vermelha, praticamente não se importa quando a luz vermelha aparece. Mas a luz azul é tão interessante para o bichinho que até parece amor. Agora, duvido alguém me contrariar e afirmar que não adora o sorriso de quem se está paquerando.

Outro modo de entender o que é a “atenção” é no caso em que olhamos fixamente para algo (ou nos concentramos em ouvir, saborear, etc). De forma semelhante ao que foi dito anteriormente, essa forma de atentar está sob controle de estímulos relacionados a eventos importantes para nós. Os exemplos são muitos. Alguém que ouve música fica atento a ela porque isso lhe dá prazer. Um segurança olha fixamente para a tela que mostra o exterior do edifício porque caso algo lhe escape ele terá problemas. Prestamos atenção especialmente em alguns textos porque disso depende a nossa boa nota em uma disciplina ou simplesmente porque o texto é prazeroso.

Atenção também pode ser compreendida de outro modo, como uma reação natural a mudanças do ambiente. Parece que o nosso organismo foi filogeneticamente preparado para atentar a novos estímulos  automaticamente. Isso, claro, é uma forma de defesa: evita que sejamos pegos de surpresa. Qualquer barulho ou movimento inesperado chama a nossa “atenção” rapidamente, permitindo que nos preparemos para o que pode acontecer.

Os conceito de atenção e percepção têm implicações importantíssimas para a educação. Alunos só prestam atenção a informações que lhes são relevantes em algum nível. O fato de ser comum ouvir alunos reclamando sobre o que aprendem e ouvir professores reclamando sobre a falta de atenção e interesse dos alunos aponta para algo alarmante: estão ensinando conteúdos sem relação com o cotidiano dos estudantes.

Se você é professor, ou apenas alguém que gosta de chamar a atenção para si, lembrem-se da máxima: atenção é interesse. Enquanto você estiver mostrando informações relevantes terá toda a atenção da platéia.

Conclusão: o Contexto

Todas as ideias apresentadas acima se relacionam ao tema maior “contexto”. Quando dizemos que as pessoas se comportam de acordo com seu contexto, estamos nos referindo ao tipo de eventos descritos como controle de estímulos, percepção e atenção. Há, ainda, mais conceitos que poderiam ser discutidos dentro deste tema, como abstração, inteligência e cultura. No entanto, isso extrapolaria o objetivo central de explicar de forma resumida como a análise do comportamento compreende o contexto (controle de estímulos).

Fiquem à vontade para fazer comentários e tirar dúvidas…

Robson Brino Faggiani

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Conceitos básicos da AC – Parte 6 – A punição, o controle aversivo e a extinção

Neste post trataremos dos conceitos relacionados aos processos de punição, de controle aversivo e de extinção.

A punição é uma operação que faz parte do reforçamento, isso porque também se trata de uma conseqüência que altera a probabilidade de uma resposta.

Porém a forma como a punição produz tal alteração é uma questão controversa. Há duas correntes teóricas que definem a punição de formas diferentes. Uma delas defende que a punição é um processo que diminui a probabilidade da emissão das respostas. Isso quer dizer que se alguém se comporta de determinada maneira, ou seja, se costuma fazer algo como andar de bicicleta ou pintar quadros, e tem esse comportamento punido, a probabilidade dessa pessoa voltar a fazer estas mesmas coisas será menor.

punição

Uma outra corrente teórica diz que a punição na verdade elicia reações emocionais e aumenta a probabilidade de respostas de fuga e esquiva – e por causa destes processos que a resposta sob análise se torna menos provável de ocorrer. Isso quer dizer que se eu puno o comportamento “andar de bicicleta” de alguém, essa pessoa passa a andar menos para não sentir ansiedade, medo ou para evitar que eu a puna novamente.

Apesar da semelhança entre as duas correntes, a diferença entre elas subsidia discussões sobre questões éticas para o uso da punição como método de modificação do comportamento. Porém, esclarecidas estas duas possibilidades de entender os processos punitivos, vamos às definições de punição positiva e negativa

A punição positiva

A compreensão deste processo requer um retorno ao conceito de reforço negativo. Lembre-se que um reforçador negativo é um estímulo que uma pessoa se comporta para remover. Lembre-se também que este estímulo também pode ser chamado de estímulo aversivo.

Pense agora em uma situação em que alguém faz alguma coisa e, como conseqüência, aquele mesmo estímulo aversivo é produzido pela resposta daquela pessoa. Por isso este processo é chamado de punição positiva, porque se trata da produção/adição de um estímulo aversivo.

Vamos supor que aquela mesma pessoa que fecha a janela pra evitar a chuva agora descobre uma chave em uma parede de sua casa. A pessoa gira a chave e um cano começa a jorrar água fria sobre a cabeça dela. Este é um processo de punição positiva: a resposta produz um estímulo aversivo. Um critério para averiguar se de fato se tratou de uma punição é a observação da diminuição da taxa da resposta. Se a pessoa não abrir mais aquela chave, de fato o jato de água fria puniu.

A punição negativa

Este processo recai sobre o conceito de reforço positivo. Lembre-se que um estímulo reforçador é aquele que, quando produzido, aumenta a probabilidade da resposta que o produziu. Então, se passarmos agora a retirar um estímulo reforçador que está presente no ambiente da pessoa quando ela emite uma determinada resposta, dizemos que houve punição negativa – e este processo deve implicar na diminuição da probabilidade de emissão da resposta. É daí que surge o nome de punição negativa, pois trata-se da retirada/subtração de um estímulo reforçador produzida pela resposta.

Por exemplo, imagine um terapeuta que está sempre atento e pronto a discutir os temas relevantes na vida de seu cliente e isto tem feito o cliente trazer, a cada sessão, mais e mais temas para discutir com seu terapeuta. Porém agora o cliente passa a abordar temas que tratam da vida pessoal do terapeuta e, nestes momentos, o terapeuta se cala e não dá oportunidades para que o cliente prossiga na discussão. A partir daí, o cliente provavelmente não perguntará mais sobre este assunto. O terapeuta estaria, provavelmente, punindo negativamente a resposta de seu cliente. Este é um exemplo que dificilmente acontecerá na prática, mas serve apenas para ilustrar o conceito.

O controle aversivo

É importante considerar brevemente que o reforço negativo e a punição são estudados sob o tema de controle aversivo, pois todos tratam-se de variáveis de controle do comportamento por outras vias que não o reforçamento positivo. São processos amplamente discutidos devido aos efeitos que este tipo de controle pode gerar no comportamento, como supressão condicionada (parar de responder), os subprodutos emocionais (como o medo e a ansiedade) e o aumento de respostas de agressão quando uma pessoa está sob controle aversivo.

A extinção

Outra consideração importante se faz necessária para quando conseqüências que vinham sendo produzidas pelas respostas não mais as são. Se determinados estímulos reforçadores ou aversivos não são mais apresentados ou retirados, a tendência do responder é retornar à probabilidade de ocorrência anterior do processo de reforçamento.

Assim, se riscar o papel não o pinta mais, a criança desiste de desenhar; se fechar a janela não impede mais a chuva, a pessoa a larga como está; se abrir a chave não mais produz um banho frio, a pessoa volta a abri-la quando quiser; e se o terapeuta volta a atentar aos tópicos abordados pelo cliente, este volta a perguntar o que havia deixado de lado.

Ou seja, a extinção é o efeito da suspensão do reforçamento sobre o responder –- significa o retorno da probabilidade do responder a taxas anteriores.

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Conceitos básicos da AC – Parte 5 – O reforçamento

Por reforçamento pode-se entender qualquer operação que altere a chance de uma resposta ocorrer no futuro. Assim, operações como reforçamento positivo, reforçamento negativo, extinção, punição positiva e punição negativa podem ser englobadas em um único e amplo conceito chamado reforçamento.

Primeiramente vamos nos ater às operações conhecidas como reforçamento (ou reforço) positivo e reforçamento (ou reforço) negativo. Um breve parêntese pode ser importante: quando usamos a palavra reforço, podemos estar nos referindo a três coisas diferentes: 1. Um reforçador, quer dizer, um estímulo que quando produzido por uma resposta aumenta a probabilidade desta; 2. Um reforçamento, ou seja, uma operação em que reforçadores são apresentados; e 3. Um reforçamento enquanto procedimento, ou seja, uma situação em que alguém deliberadamente provê conseqüências especialmente para instalar, manter ou manejar o responder de um organismo.

Agora podemos passar a uma apresentação melhor das operações de reforço.

O reforço positivo

Reforço positivo é uma operação em que um evento produzido por uma resposta aumenta a probabilidade desta resposta ocorrer no futuro.

Vejamos uma situação natural em que esta operação pode ocorrer. Se uma criança, brincando com materiais gráficos, produz no papel um risco colorido com um lápis de cor e, depois disto, passa a riscar papéis quando os encontra pela frente, podemos dizer que o risco (ou o papel riscado) reforçou positivamente a resposta de riscar.

O mesmo pode acontecer em uma situação planejada, como quando um terapeuta discute com o cliente como ele pode resolver os problemas que ele acabou de contar na sessão – o terapeuta reforçou respostas do cliente relacionadas a discutir as dificuldades de sua vida, o que é de muito interesse de um terapeuta.

terapeuta

De maneira mais geral, uma representação gráfica da relação entre a resposta e o reforçador positivo pode ser formulada da seguinte maneira:

reforçopositivo

Esta representação provavelmente será lida por um analista do comportamento da seguinte forma: dada a emissão de uma resposta, um estímulo é produzido e este estímulo retroage sobre a probabilidade futura de ocorrência desta resposta. Isso quer dizer que, se a pessoa faz algo que produz um reforço, então é bem capaz que ela volte a fazer isso.

Uma observação final é a de que muitos autores já definiram o reforço como um estímulo agradável, apetitivo, prazeroso, etc. Hoje este tipo de definição não é aceita, sendo que a única característica do estimulo que o caracteriza como reforçador é o aumento da probabilidade de ocorrência da resposta que o produziu.

O reforço negativo

Se por um lado o reforço positivo é marcado pela produção de um evento, o reforço negativo é marcado pela eliminação de um evento. Daí os nomes positivo (produção, adição) e negativo (eliminação, subtração). Desta forma, reforçamento negativo é uma operação em que uma resposta tem sua probabilidade de ocorrência aumentada pela eliminação de um estímulo.

Por exemplo, se uma pessoa está do lado de uma janela e começa a chover no seu rosto, ela pode fechar a janela e impedir que a chuva continue a molhando. Se das próximas vezes que chover ela fechar a janela, a porta, etc., podemos dizer que estas respostas foram negativamente reforçadas pela remoção da chuva.

Os analistas do comportamento chamam de estímulo aversivo o evento que é eliminado no reforçamento negativo. Existem muitos estímulos aversivos conhecidos, como o choque elétrico, os jatos de ar quente, as estimulações dolorosas diversas, etc. Mas definiremos um estímulo aversivo baseados principalmente na probabilidade de uma pessoa, ou um animal, se comportar para eliminar este estímulo.

As respostas negativamente reforçadas são chamadas de fuga na literatura analítico-comportamental. Um esquema gráfico de uma resposta de fuga pode ser este apresentado a seguir:

reforçonegativo

Você pode ler este esquema da seguinte forma: dado um estímulo aversivo, uma resposta que o elimine será negativamente reforçada. Isso quer dizer que se uma pessoa fizer algo que termine uma estimulação aversiva, é muito provável que ela volte a fazer isso quando a estimulação aversiva voltar a acontecer.

Um outro tipo de resposta negativamente reforçada é chamado de esquiva. Na esquiva, o estimulo aversivo não precisa ser apresentado – exige-se apenas a presença de um outro evento que indique que o aversivo pode aparecer. Por exemplo, aquela pessoa que aprendeu a fechar a janela pra se livrar da chuva pode começar a fechar a casa toda quando o céu ficar cheio de nuvens carregadas.

Em resumo, pode-se dizer que reforço positivo e negativo são processos em que as conseqüências do responder aumentam a probabilidade futura da emissão de uma dada resposta.

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Conceitos básicos da AC – Parte 4 – O Comportamento Operante

Como foi discutido até agora, há um tipo de comportamento que tem sua origem na história evolutiva das espécies e é caracterizado pela relação entre um estímulo eliciador e uma resposta. Porém há um tipo de comportamento caracterizado por outra propriedade: sua causa está nas modificações que são operadas no mundo. Assim é o comportamento operante, um tipo especial de responder que é sensível às conseqüências que produz. Por causa desta sensibilidade às conseqüências que cozinhamos, construímos, namoramos e brincamos, pois depois de fazer tais coisas obtemos saciação, abrigo, carinho e satisfação.

O comportamento operante tem um componente derivado da seleção natural, que é tal sensibilidade às conseqüências. Porém é caracterizado por uma variedade infinita de possibilidades: uma conseqüência pode ser produzida de qualquer forma, seja por um toque de mãos ou por um pedido, e a forma como se produziu aquela conseqüência tenderá a se repedir no tempo.

O conceito de operante é muito relevante para a ciência como um todo, pois contraria uma proposição científica que influenciou a psicologia por muito tempo. Em geral, entendia-se que um comportamento só poderia ser causado por algo que o precedesse. Porém a definição de controle pelas conseqüências trata-se de uma descoberta empírica (apoiada em dados observados com rigor experimental) e é compatível com compreensões científicas contemporâneas, como a física quântica e a seleção natural.

A análise do comportamento operante requer a compreensão de alguns conceitos. Os mais importantes aqui são comportamento, antecedente, resposta e conseqüência. Vamos a eles:

  • Compfutebolortamento: é a relação entre estímulos e respostas. Usualmente se diz que um comportamento é algo que uma pessoa faz, como chutar. Na verdade, quando nos referimos a um comportamento precisamos descrever o que a pessoa faz e alguma relação entre este fazer e o ambiente. Podemos completar o exemplo acima dizendo que um comportamento é algo que uma pessoa faz com alguma coisa, como chutar a bola que o outro jogador tocou e marcar um gol.
  • Antecedente: É alguma propriedade do ambiente que sinaliza uma oportunidade para a resposta ser emitida. No exemplo acima, o toque da bola pelo outro jogador é um antecedente para chutar a gol. Este conceito será melhor explorado na postagem sobre controle de estímulos.
  • Resposta: É o que uma pessoa faz, como olhar para a bola, mirar o gol, sentir a adrenalina, chutar, gritar, etc. Quando analisamos uma resposta, nem sempre é necessário descrever sua relação com os estímulos do ambiente. Nestes casos, o mais importante é verificar se a resposta foi ou não emitida.
  • Conseqüência: é uma modificação no ambiente efetivamente produzida pela resposta. O gol de nosso exemplo foi produzido pelo chute.

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Conceitos basicos da AC – Parte 3 – Reflexo Condicionado

Como prometido no texto sobre Reflexos Incondicionados, vamos prosseguir com a explicação e exploração do tema Reflexo Condicionado na Analise do Comportamento

O Reflexo Condicionado foi descoberto quase que por um acidente, Pavlov percebeu que o som dos seus passos foram pareados diversas vezes com um pedaço de carne que era dado aos cães e após um curto espaço de tempo, mesmo que não se apresentasse a comida, apenas com o som dos passos os cães começavam a salivar. O pareamento entre um estimulo incondicionado ( comida ) e um estimulo neutro ( som dos passos ) foi capaz de produzir uma resposta condicionada.

Pavlov quando notou que os cães respondiam salivando apenas com o som dos seus passos, começou a fazer experiências. Na sua pesquisa, adotou o seguinte procedimento : Antes de apresentar a comida, um estimulo sonoro era tocado, como campainhas. Apos algumas vezes que esse estimulo neutro era apresentado antes da comida, foi percebido que esse estimulo por si só já eliciaria o comportamento de salivar.

A ilustração abaixo mostra o processo do Pareamento de um estimulo Neutro ( Sn ) com um estimulo Incondicionado ( Si ) que a principio elicia uma resposta incondicionada ( Ri ) e no fim ela se transforma em uma resposta condicionada ( Rc )

ScColocando o diagrama acima no exemplo.

Na Etapa 1 do procedimento de Pavlov, podemos dizer que a Comida ( Si ) eliciava a salivação ( Ri ). Na etapa 2, adicionamos um estimulo Neutro que no caso foi o som dos passos do Pavlov ( Sn ) precedendo a apresentação da Comida, então percebemos que houve um pareamento entre o som dos passos de Pavlov ( Sn ) com a apresentação da Comida ( Si ). Na etapa 3, o som dos passos de Pavlov se tornou um estimulo condicionado ( Sc ) e agora produzem uma resposta igualmente condicionada ( Rc ).

A partir disso, a comida não precisaria ser apresentada para que o som dos passos de Pavlov eliciem o comportamento de Salivar.

Diferentemente do Reflexo incondicionado que é controlado filogeneticamente, o reflexo condicionado é controlado Ontogeneticamente, pois é necessária uma história prévia de pareamentos.

O Condicionamento Reflexo ou Pavloviano é muito comum na nossa vida. Agora com esses novos conceitos, podemos responder as perguntas feitas no inicio do texto com facilidade. A criança chora ao ouvir o barulho da maquina do dentista pois em sua vivência, o som da maquina ( Estimulo Neutro ) era pareada com a dor ( estimulo incondicionado ) que a mesma provocava. Em algumas sessões de tratamento com o dentista, o som da maquina por sí só foi capaz de eliciar ansiedade, medo e todos os respondentes que foram pareados no momento do uso da maquina.

Um exemplo bem interessante são os dos Esquimós da região do Alaska. Um reflexo incondicionado característico a espécie humana é que quando sentimos dor intensa ou quando estamos muito tristes, choramos. É um reflexo incondicionado comum ao homem. Porem no Alaska o homem não pode chorar.

O reflexo incondicionado é alterado para o condicionado de não chorar, o estimulo que leva ao choro produz uma outra resposta. Geralmente, quando sentem dor ou quando estão muito tristes, os esquimós dão risada. Um reflexo incondicionado que se transformou em condicionado ontogeneticamente.

O organismo deles foi modificado, pois o frio é tão intenso que quando se chora, as lagrimas imediatamente se congelam e com isso ferem os olhos gravemente. Vejam, o organismo se modificou alterando um reflexo incondicionado para que o organismo se adaptasse ao ambiente. Aqueles que choram sofrem danos oculares, os que não possuem mais essa resposta se mantem intactos.

Algumas leis são importantes quando falamos em Reflexo Condicionado. São elas :

  1. Um estimulo Neutro só adquire poder de eliciar respostas incondicionadas se for apresentado ao mesmo tempo do Estimulo Incondicionado
  2. Quanto mais o estimulo neutro for pareado com o estimulo incondicionado, mais poder de eliciar a resposta ele adquire.
  3. Quanto menor o tempo de ocorrência entre um estímulo neutro e um incondicionado, mais eficiente será o condicionamento.
  4. Em alguns casos os fatores biológicos interferem na capacidade de um estimulo neutro se tornar um estimulo condicionado.

Pavlov foi um marco dentro da Psicologia, pois foi através das suas idéias que outros grandes nomes começaram, como o grande expoente do Behaviorismo Radical B. F. Skinner. É interessante citar que Pavlov utilizou o termo “Reforçador” quando discorria sobre o efeito do alimento no condicionamento de uma cachorro a salivar ao som de uma campainha. O Alimento reforçava a conecção entre um estimulo neutro e a salivação. ( Keller, F. S. 1969 ).

Os achados de Pavlov e as experiências de Condicionamento de reflexos foram muito importantes para a Psicologia, pois a partir de todos esses conceitos que os autores comportamentais puderam ampliar suas formas de entendimento do comportamento humano.

Referencias : Keller, F. S. 1969; Aprendizagem : Teoria do Reforço. (pp 7-14).

Por : Marcelo C. Souza

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Conceitos Basicos da AC – Parte 2 – Reflexo Incondicionado

Atualmente é uma preocupação da psicologia moderna, definições e conhecimentos sobre como as pessoas se comportam e como aprendemos e fazemos relações entre eventos. Já se perguntaram o porquê de uma criança chorar de medo ao ouvir o barulho da maquina do dentista? Já se perguntaram como aquele belo prato de comida nos faz sentir a boca cheia de água?

Vamos explorar os conceitos de reflexo inato e mostrar como esses processos acontecem e por que são tão importantes para o entendimento do comportamento humano em suas manifestações.

Reflexo Inato ou incondicionado

Para falar em reflexos na Analise do Comportamento devemos voltar na história onde vamos encontrar um personagem chamado Ivan Petrovich Pavlov ( 1849 / 1936 ).

Pavlov foi um fisiologista Russo que ganhou o Nobel de Medicina, mas é conhecido até hoje pelos seus achados e contribuições a Psicologia.

Pavlov

Ivan Petrovich Pavlov

Pavlov estudava o sistema digestivo de cães apresentando diversos tipos de comida e media a quantidade de saliva que era produzida. No entanto Pavlov começou a perceber que a saliva era produzida mesmo quando a comida não era apresentada.

Observando o que acontecia, Pavlov percebeu que a comida quando apresentada junto a outros estímulos no ambiente sinalizavam a presença da mesma e como conseqüência produzia as mesmas reações fisiológicas em seus cães que a presença real da comida.

Estava descoberto o Reflexo Condicionado.

Para falar sobre o Reflexo Condicionado precisamos antes entender o que é o reflexo incondicionado. O reflexo incondicionado também conhecido como comportamento respondente é definido como uma resposta que é filogeneticamente instalada no individuo e de regra geral esta ligada a sobrevivência.

É eliciado por um estimulo incondicionado, ou seja, que naturalmente produza uma resposta quase sempre sem o controle ativo do organismo. Por ser incondicionado é correto dizer que a resposta é eliciada sem nenhum tipo de historia previa de pareamento. Como exemplo podemos citar que em um dia de muito calor o corpo produza suor ou quando existe uma luz muito forte , a pupila se contraia.

Pavlov para falar de Estimulo incondicionado e respostas Incondicionadas partiu das suas observações sobre a sua experiência, onde a comida sempre eliciava a salivação nos cães. Para tal relação Pavlov chamou a comida de Estimulo Incondicionado e a salivação de Resposta Incondicionada. Para essa relação entre um estimulo incondicionado e uma resposta incondicionada, Pavlov usou o termo reflexo Incondicionado. Um estimulo incondicionado vai eliciar uma resposta incondicionada ou automática.

A ilustração abaixo mostra o processo de Comportamento Respondente ou inato.

Si

Alguns exemplos de Estímulos incondicionados e respectivas respostas incondicionadas são :

Exemplos

Reflexo Incondicionado e a Origem das Espécies

O reflexo incondicionado como dito anteriormente é selecionado filogeneticamente. Mas o que quer dizer isso? Quando dizemos filogeneticamente, queremos dizer que o reflexo esta impresso no organismo em seu DNA e faz parte de toda uma espécie. Lembra que quando falei no Reflexo incondicionado, foi dito que geralmente ele esta ligado a sobrevivência da espécie ?

Pois bem, o reflexo incondicionado acabou sendo impresso no organismo pois contribuiu para a sobrevivência da espécie. O Behaviorismo Radical tem uma grande base na Evolução das Espécies de Charles Darwin. A Seleção Natural das espécies também depende dos reflexos incondicionados. Por exemplo, um animal que nasceu com uma alteração biológica onde o frio intenso a faz tremer e essa reação tem a função de tentar aumentar a temperatura corporal e sinalizar a morte, serviu como um diferencial entre os indivíduos que ao serem expostos ao frio morriam e aqueles que ao tremerem sabiam que precisavam aumentar sua temperatura rapidamente e com isso sobreviviam. O cruzamento entre os organismos que possuíam o reflexo de tremer ao frio foi sendo passado de geração em geração e gerou herdeiros com esse reflexo instalado, então todos os indivíduos pertencentes ao grupo adquiriram filogeneticamente o reflexo de tremer ao frio e portanto sobreviveram. Aqueles que não tinham o reflexo incondicionado de tremer morreram. O reflexo incondicionado teve a função de modificar organismos para serem mais fortes e mais adaptados ao ambiente.

O conceito de  reflexo Condicionado, que foi desenvolvido a partir dos conceitos de Reflexo incondicionado são importantíssimos, tendo em vista que foi a partir deles que Skinner começou a desenvolver os conceitos de comportamento Operante e revolucionar o próprio paradigma da Psicologia.

No proximo texto da série ” Conceitos basicos” vamos falar do Reflexo Condicionado e da sua importância.

Marcelo C. Souza

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