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Watson, Behaviorista Metodológico?

Watson é caracterizado como Behaviorista Metodológico por muitos autores em Psicologia. Muitos inclusive, atribuem esta caracterização da obra de Watson a Skinner – coisa que Skinner não faz em nenhum de seus textos.

O livro Princípios Básicos de Análise do Comportamento de Márcio Borges Moreira e Carlos Augusto de Medeiros é um exemplo. Na página 217, parágrafo 2 da edição de 2007, onde é feita uma citação do livro “Sobre o Behaviorismo”, os autores colocam um parêntese em uma frase referindo-se ao Behaviorismo Metodológico como o Behaviorismo de Watson. Coloco abaixo a frase:

O Behaviorismo Metodológico (de Watson) e algumas versões do positivismo lógico excluíam os acontecimentos privados porque não era possível um acordo público acerca de sua validade

O texto de  Strapasson e Carrara (2005), intitulado John B. Watson, Behaviorista Metodológico? apresenta uma discussão muito legal a respeito desta idéia.  Os autores dizem, basicamente, que:

A principal reinvidicação de Watson é sim relativa à restrição da pesquisa aos eventos  publicamente observáveis da atividade humana. Tal reinvidicação nasceu em protesto à psicologia introspeccionista da época que, devido ao seu caráter subjetivo, não poderia ser aceita como científica. Watson em seu manifesto Behaviorista defende a Psicologia Objetiva como única possibilidade desta tornar-se uma ciência, conforme explicam Strapasson e Carrara (2005).

Os autores ainda lembram que esta preocupação com o método (outra coisa que pode ter contribuído para ele ser classificado como Metodológico) é tida como característica definidora de seu Behaviorismo. Em detrimento da importância dada a ele para o método, obviamente sendo possível estudar somente o que é observável, em algumas de suas obras ele deixa uma brecha que muitas vezes passa a idéia da possibilidade de existência de um mundo metafísico – caracterizando-se assim, um dualista. Como exemplo, cito um trecho de uma obra dele que foi publicada em 1913:

““Seria então deixado para a Psicologia um mundo puramente físico, para usar o termo de Yerkes? Eu confesso que não sei. Os planos aos quais sou mais favorável para a Psicologia levam praticamente a ignorar a consciência no sentido em que o termo é utilizado pelos psicólogos hoje. Eu tenho virtualmente negado que esse campo da física é aberto à investigação experimental. Eu não quero ir além nesse problema no presente porque ele leva inevitavelmente para dentro da metafísica”. (Watson, 1913, p. 175, apud. Strapassom  e Carrara, 2005)”

Porém, conforme explicam, ele não era dualista. Watson diz que atividades como o pensamento, até então não observáveis, ainda viriam a ser. Ele assim, atribuía às condições tecnológicas da época a dificuldade de observá-los;  caracterizando-os como comportamentos – assim como os publicamente observáveis – mas que ocorrem em escala tão pequena que só a partir do momento em que houver a tecnologia adequada tornar-se-á possível estudá-los (Strapasson e Carrara, 2005).

O próprio Lanshey, aparentemente o primeiro a usar o termo “Behaviorismo Metodológico”, não enquadra Watson deste modo. Watson teria de assumir um mundo mental (metafísico) para ser classificado como Metodológico, e isto Watson não faz, lembram os autores. Ele rejeita a discussão metafísica do mesmo modo que outros cientistas naturais:

“O behaviorista gostaria de fixar a premissa, sem discutir suas muitas implicações metafísicas… O behaviorista… desvia seu olhar… da premissa metafísica e pede apenas para que permitam-no fazer observações sobre o que seu sujeito está fazendo sob dadas condições de estimulação. No lado metafísico ele pede apenas para ser colocado no mesmo cesto dos outros cientistas naturais .” (Watson, 1920, pp. 93-94, apud. Strapasson & Carrara, 2005, grifo acrescentado)

Conforme discutem Strapasson e Carrara (2005), as características do Behaviorismo Metodológico não se aplicam a Watson à medida que sua proposta se tornaria inviável diante do compromisso epistemológico do BM. Watson dizia que o Behaviorismo deveria ser capaz de explicar toda a atividade Humana; coisa que o BM não admite por ter entre suas premissas (compromisso epistemológico) a idéia de que o mundo divide-se entre um mental e um físico, sendo possível apenas estudar o mundo físico.

Apenas nos primeiros escritos de Watson podem ser encontrados traços do Behaviorismo Metodológico, como em sua obra The battle of behaviorism: An exposition and an exposure (1913). Em outros trabalhos, como o livro  Behaviorism e no artigo Is thinking merely the action of language mechanisms é possível perceber um viés metafísico materialista com algumas tendências revisionistas. No amadurecer de sua obra, no entanto, Watson foi se afastando cada vez mais do que se chama de Behaviorismo Metodológico.

Só para citar, alguns autores mais famosos que de fato podem ser considerados defensores do Behaviorismo Metodológico são Stevens, Spancer e Borin, além de Lanshey.

Compreender o pensamento de Watson é importante, afinal ele é o pai do Behaviorismo. O Rodrigo me disponibilizou uma coletânea de textos sobre ele, dentre os quais, estão os que me referenciei para escrever esta matéria. Estes textos foram usados em um curso a respeito de Watson ministrado na USP em 2008; estou me colocando a disposição para enviá-los a quem tiver interesse. Quem quiser recebê-los, envie um email solicitando para: e.c.neto@hotmail.com

Autor do texto: Esequias Caetano de Almeida Neto.

Artigo Base para a discussão: Strapasson e Carrara (2005). John B. Watson, Behaviorista Metodológico?. Link: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/viewFile/9120/9206

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